Opinião

O desafio das renováveis no Brasil

Por Redação

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Desde a Revolução Industrial, os sucessivos paradigmas tecnológicos calcaram-se na utilização crescente de combustíveis fósseis. Em 2014, 80% da demanda energética mundial foi atendida por petróleo, gás natural e carvão. A dominância dos fósseis é considerada determinante para o aquecimento global, e a redução dessa participação é vista como a principal política para evitar a ocorrência de catástrofes ambientais.

A COP21 traçou ações efetivas para limitar o aumento da temperatura média no mundo abaixo de 2ºC até 2100, a partir de planos nacionais de compromisso de redução de emissões, chamados de INDCs.

A transição energética mundial para uma economia de baixo carbono dependerá significativamente da redução da utilização de combustíveis fósseis na geração de eletricidade, que responde, atualmente, por um terço das emissões globais. Além disso, o caminho para a redução por outros segmentos, como transporte e aquecimento, deve envolver maiores usos de eletricidade (com carros e sistemas elétricos de aquecimento), indicando que uma matriz limpa, com elevada participação de fontes renováveis, será essencial para permitir que a eletrificação do futuro reduza os níveis atuais de emissão.

Os esforços para a transição elétrica já estão em curso. A política energética de diversos países incentiva a contratação de Novas Energias Renováveis (NER), principalmente eólica e solar. A participação relativa das NER na nova capacidade instalada ao ano no mundo dobrou nos últimos dez anos, alcançando quase 50% em 2014. Se, por um lado, o protagonismo das NER torna plausível uma transição acelerada, por outro, introduz inúmeros problemas e desafios a serem enfrentados, como a intermitência e a descentralização dos fluxos de energia.

A inserção do Brasil neste contexto tem suas peculiaridades. Por conta da disponibilidade de recursos renováveis, o Brasil seguiu uma trajetória distinta e, hoje, conta com uma matriz energética limpa frente à média mundial. A participação das renováveis na geração brasileira é de 85%.
Se o esforço global tiver êxito, a intensidade de emissão para a geração de energia global alcançará o índice brasileiro próximo do final do período de previsão, ou seja, em termos de energia limpa, o Brasil está 20 anos à frente da média global. O desafio que se coloca, no entanto, é manter a participação de renováveis na matriz de geração. Assim, a essa liderança não exime o Brasil de seguir políticas de mitigação de emissões.
Nesse sentido, na COP21, o Brasil comprometeu-se a reduzir as emissões de GEE em 37% em 2025 em relação aos níveis de 2005 e em 43% na mesma base de comparação até 2030. Para o setor de energia, o Brasil estabeleceu três metas (INDCs) no Acordo de Paris:
(i) atingir participação de 45% de energias renováveis na matriz energética em 2030; (ii) aumentar a participação de bioenergia para 18% até 2030, expandindo o consumo de biocombustíveis, a oferta de etanol (inclusive segunda geração) e a parcela de biodiesel na mistura do diesel; e (iii) expandir o uso de fontes renováveis, além da energia hídrica, na matriz total de energia para uma participação de 28% a 33% até 2030.

O Brasil conta com posição privilegiada para acomodar uma expansão significativa de energias renováveis intermitentes. Por um lado, o sistema elétrico pode ser considerado dinâmico, com crescimento elevado projetado para o longo prazo, o que permite ajustes na expansão para adequar o sistema a maior geração de fontes renováveis intermitentes.

Por outro, o sistema já dispõe de elevado grau de flexibilidade em decorrência da preponderância hidrelétrica, da estocagem através dos reservatórios hídricos e da possibilidade de intercâmbio por meio de um sistema de transmissão de dimensão continental.
Com estas características, a expansão renovável no Brasil pode ocorrer com custos de integração reduzidos vis-à-vis sistemas estáveis de base termelétrica. Os reservatórios acomodam a intermitência provendo flexibilidade e ainda estocam a geração intermitente sob a forma de água, com o deslocamento da energia hidráulica evitada.

Luciano Losekann e Michelle Hallack são professores da Faculdade de Economia da UFF e pesquisadores do Grupo de Economia da Energia da UFRJ.

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