Opinião

Serviços ecossistêmicos na agenda do setor elétrico

Metodologias de Valoração Ecossistêmica contribuem para que empresas do setor elétrico compreendam melhor as interfaces entre a operação de seus ativos e os aspectos socioambientais

Por Claudio Sales

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Apesar de não serem uma novidade no Brasil, o acompanhamento da evolução do arcabouço legal e regulatório do país indica que, cada vez mais, os conceitos associados aos Serviços Ecossistêmicos ganharão relevância no mundo corporativo. 

Serviços Ecossistêmicos podem ser descritos como fenômenos naturais responsáveis pelos processos biológicos, físicos e químicos que possibilitam a vida na Terra e o desenvolvimento de atividades econômicas. 

Ao atribuir um valor econômico aos Serviços Ecossistêmicos envolvidos em suas atividades, as empresas podem compreender de forma mais completa a interface existente entre aspectos socioambientais e a sua operação, ampliando as dimensões abrangidas pelas suas matrizes de risco. 

Assim como ocorre em outras áreas, as atividades do setor elétrico dependem, em diferentes graus, de Serviços Ecossistêmicos. O serviço de “Provisão de Água”, por exemplo, é necessário para o acionamento das turbinas de usinas hidrelétricas e o funcionamento dos sistemas de resfriamento de usinas termelétricas. Já o serviço de “Controle da Erosão” contribui para a estabilidade das torres de linhas de transmissão. No segmento de distribuição, a previsibilidade de fenômenos climáticos obtida a partir do serviço de “Regulação do Clima” aumenta a capacidade de planejamento operacional. 

Globalmente, regulações relacionadas a Serviços Ecossistêmicos têm avançado e resultado em novas obrigações para as empresas como, por exemplo, a precificação de carbono – prática a partir da qual se atribui um valor às emissões de gases do efeito estufa. O valor atribuído às emissões reflete, direta ou indiretamente, as consequências, para a sociedade, das externalidades negativas causadas pelos GEEs (Gases de Efeito Estufa) aos Serviços Ecossistêmicos relacionados ao serviço de regulação climática atual. Nos últimos anos esse tema tem ganhado importância nos fóruns internacionais, provando sua relevância global

As próprias dimensões de ESG (Environmental, Social and Governance) vêm sendo impulsionadas pela percepção de que a atenção dispensada aos aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa facilita a identificação e mitigação de riscos não-financeiros e contribui para o planejamento de longo prazo. Neste contexto, a identificação, valoração e comunicação das dependências e externalidades sobre os Serviços Ecossistêmicos relacionados à operação de uma atividade econômica constitui uma das práticas que podem se tornar mais comum no ambiente de negócios.

Apesar de temas relacionados a emissões de gases do efeito estufa e às mudanças do clima concentrarem a maior parte das ações desenvolvidas sob o conceito dos Serviços Ecossistêmicos, aspectos adicionais relacionados, por exemplo, ao consumo de água, à emissão de material particulado e à conservação da biodiversidade também podem aumentar a chance de sucesso de uma atividade no longo prazo. 

Ao possibilitar a estimação do valor monetário das externalidades e dependências, as metodologias de Valoração Ecossistêmica contribuem para que empresas do setor elétrico compreendam melhor as interfaces entre a operação de seus ativos e os aspectos socioambientais.

O Instituto Acende Brasil tem desenvolvido projetos sobre o tema e acaba de lançar um estudo sobre Serviços Ecossistêmicos, que apresenta os principais conceitos envolvidos neste tipo de serviço e analisa a sua importância para as empresas do setor elétrico.

Está cada vez mais consolidada a percepção de que indicadores econômico-financeiros, sozinhos, são insuficientes para refletir o desempenho operacional e os riscos que ameaçam um negócio. A incorporação da avaliação dos Serviços Ecossistêmicos à estratégia empresarial contribui para a construção de um retrato mais completo sobre a realidade das organizações.

Claudio Sales é Presidente do Instituto Acende Brasil. Alexandre Uhlig, coautor deste artigo, é Diretor de ESG da entidade.

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