Opinião

A sobrecapacidade de refino na China e as exportações brasileiras

A sobrecapacidade de refino na China tem pressionado margens globais e levado o governo a racionalizar o setor, afetando a demanda por petróleo importado. Caso as regulamentações sejam implementadas, o Brasil precisará redirecionar suas exportações para outros mercados.

Por Heitor Paiva

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A sobrecapacidade de refino de petróleo na China tem se tornado um problema crescente nos últimos anos. Com um grande número de refinarias independentes e de pequena escala, muitas vezes economicamente viáveis apenas por meio de subsídios e incentivos, as margens de refino a nível global têm sido negativamente impactadas. Em resposta a essa situação, o governo chinês tem avaliado medidas para enfrentar o problema da sobrecapacidade e racionalizar o setor de refino.

O objetivo das autoridades chinesas é consolidar e modernizar a indústria, fechando refinarias ineficientes e de menor porte. Pequim comprometeu-se a promover a integração de refinarias em complexos petroquímicos maiores e mais avançados, que apresentam maior eficiência e menor impacto ambiental.

Além disso, estão sendo estabelecidos limites para a adição de novas capacidades, ao mesmo tempo em que se incentiva a modernização das unidades existentes, com o propósito de criar uma indústria mais competitiva.

Essas ações integram um esforço mais amplo para alinhar o setor energético da China aos seus objetivos de segurança energética e neutralidade de carbono.

Há, ainda, a expectativa de que, em 2025, seja regulamentado o fechamento de refinarias com capacidade inferior a 40 mil barris por dia na região nordeste do país, que é, inclusive, o principal destino do petróleo brasileiro exportado para a China.

Essas mudanças, naturalmente, trazem riscos para países exportadores de petróleo, como o Brasil. Atualmente, aproximadamente 25% das exportações brasileiras de petróleo bruto têm como destino a China.

Caso o governo chinês continue a implementar suas políticas para reduzir a sobrecapacidade, existe o risco de que a demanda por petróleo bruto importado diminua, impactando diretamente os exportadores brasileiros.

A principal questão reside na efetiva implementação dessas regulamentações e, em caso afirmativo, há estimativas de analistas de mercado que indicam uma potencial queda na demanda chinesa por petróleo de até 400 mil barris por dia.

Se as regulamentações avançarem, os exportadores de petróleo do Brasil poderão enfrentar o desafio de encontrar mercados alternativos para suas exportações, considerando que o mercado global de petróleo já se encontra saturado em algumas regiões.

Uma alternativa viável seria direcionar o petróleo bruto brasileiro para centros de refino focados na produção de combustíveis marítimos em conformidade com as normas ambientais internacionais, como as estabelecidas pela IMO 2020 e 2025.

Como uma parcela significativa do petróleo exportado do Brasil para a China possui densidade média e baixo teor de enxofre (proveniente de campos como Tupi, Atapu e Sepia), suas características químicas permitem seu uso na produção de combustíveis compatíveis com essas normas, o que representa uma solução estratégica para redirecionar essas exportações.

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