Opinião
Biocombustíveis: Desafios geopolíticos e econômicos
O exemplo do Brasil, anteriormente chamado de "Arábia Saudita dos biocombustíveis", ilustra como a geopolítica desempenha um papel crucial nesse mercado
Os biocombustíveis têm se estabelecido como uma peça fundamental no cenário energético global, impulsionados tanto por iniciativas ecológicas dos governos quanto por preocupações com a segurança energética. Apesar das perspectivas positivas para o futuro, continuam a existir desafios significativos para os combustíveis renováveis.
O mercado enfrenta uma série de obstáculos, incluindo a escassez de insumos, processos regulatórios ainda em desenvolvimento e, sobretudo, as complexidades geopolíticas que afetam sua adoção em escala global. O exemplo do Brasil, anteriormente chamado de "Arábia Saudita dos biocombustíveis", ilustra como a geopolítica desempenha um papel crucial nesse mercado.
Isso foi evidenciado mais uma vez em 2023, quando a União Europeia iniciou investigações sobre o aumento do fluxo de etanol brasileiro para a região. O mesmo foi feito com os volumes provenientes dos EUA e Peru. Estima-se que os preços do etanol desses países sejam cerca de 15% mais baixos do que os observados na Europa.
A aprovação da Associação Europeia de Produtores de Etanol (ePURE) em "monitorar os fluxos" de países terceiros para a Europa reflete um tipo de "protecionismo verde" que não está diretamente ligado a objetivos ambientais, mas sim a interesses financeiros de certos participantes do mercado. Agricultores europeus, cujos biocombustíveis são altamente subsidiados e, portanto, menos competitivos, fazem parte deste grupo. A oposição ao biocombustível brasileiro muitas vezes é impulsionada por esses interesses.
Estes subsídios, no entanto, não são completamente inúteis na ótica europeia; na verdade, eles visam garantir a competitividade do produto europeu. Essa competitividade é afetada pelos custos mais altos de mão de obra e insumos, além da menor produtividade das culturas europeias em comparação com outras regiões. Os subsídios, portanto, procuram equilibrar essa desvantagem e assegurar que os biocombustíveis europeus possam competir no mercado global.
Portanto, é fundamental reconhecer que muitas das decisões relacionadas aos biocombustíveis no âmbito legal não são tomadas exclusivamente com base na otimização ambiental, mas sim refletem a busca pela manutenção de privilégios econômicos. Essa abordagem não apenas é equivocada, mas também pode representar um risco significativo para a descarbonização de setores essenciais, comprometendo as metas de neutralidade de carbono.