Opinião
Tendências Contrapostas: Estratégias de Expansão nas Indústrias de Petróleo e Gás nos EUA e Europa
As recentes movimentações nas indústrias de petróleo e gás revelam tendências divergentes entre as empresas dos Estados Unidos e da Europa. Enquanto as norte-americanas continuam a expandir sua presença no setor fóssil, as europeias direcionam seus esforços para atingir a independência do carbono. Mas a questão que permanece é: qual dessas estratégias será a vencedora no cenário em constante mudança da transição energética?
As recentes expansões empreendidas pelas grandes empresas petrolíferas dos Estados Unidos evidenciam um claro interesse contínuo no setor de combustíveis fósseis. A aquisição da Pioneer pela ExxonMobil, tornando-a a principal operadora de poços na Bacia Permiana, é um exemplo recente desta constatação. Da mesma forma, a Chevron demonstrou interesse no offshore guianês ao adquirir a totalidade da Hess Petroleum no início de outubro. Notavelmente, esse padrão de expansão não tem sido observado entre as concorrentes europeias, como a Shell, Total e BP. Esta discrepância ressalta uma clara diferença nas estratégias adotadas pelas empresas atuantes na indústria de petróleo e gás nos Estados Unidos e na Europa.
As diferenças entre as estratégias das petrolíferas norte-americanas e europeias têm sido objeto de extensa documentação e estudo. De maneira geral, é possível inferir que empresas como Exxon, Chevron e ConocoPhillips encaram o processo de transição energética como uma evolução gradual. Isto lhes permite manter uma perspectiva lucrativa na produção de petróleo, especialmente se continuarem aprimorando a produtividade e, consequentemente, reduzindo os custos unitários. Tem-se, assim, a justificativa do intenso movimento de consolidação nos Estados Unidos. Por outro lado, as empresas europeias estão focadas em alcançar a independência do carbono, estabelecendo metas de geração de energia renovável mais ambiciosas do que seus homólogos do outro lado do Atlântico.
A questão primordial que deve ser levantada, no entanto, é a determinação da estratégia que prevalecerá no futuro como a vencedora. Esta indagação é de natureza complexa, uma vez que sua resposta está sujeita a inúmeros cenários, sobre os quais nenhum analista possui controle absoluto. No entanto, parece evidente que a maior parte das políticas ambientais se concentra de maneira predominante no aspecto da oferta, em detrimento da demanda. Em outras palavras, a responsabilidade pela mitigação dos impactos dos combustíveis fósseis recai frequentemente sobre os produtores, enquanto os consumidores enfrentam restrições significativamente menores.
Nesse contexto, um padrão se destaca: a possibilidade de um déficit de commodities fósseis, resultando em preços elevados para o petróleo e seus subprodutos, apesar dos esforços para reduzir seu consumo. Como consequência, isto poderia inadvertidamente beneficiar empresas de petróleo focadas no aumento da produtividade fóssil – que, no caso, correspondem ao grupo formado pelas petrolíferas norte-americanas.
Heitor Paiva é analista de mercado e atua com inteligência e pesquisa no mercado de câmbio e commodities, principalmente através de análise fundamentalista aplicada às commodities energéticas. Atualmente está baseado em Copenhague, na Dinamarca, como analista do mercado de petróleo e combustíveis marítimos na Maersk. Escreve na Brasil Energia a cada dois meses