Opinião

Atratividade do upstream brasileiro

Artigo de Marcos Cintra, especialista em Economia e Gestão em Energia

Por Redação

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Além da autossuficiência em petróleo e gás natural, os países buscam hoje aproveitar mais amplamente os benefícios gerados pela exploração desses recursos, aliando interesses de política energética, industrial e externa. Um exemplo é a utilização do mercado doméstico como alavanca na conquista do mercado internacional, modelo adotado pelos maiores polos de serviços petrolíferos – EUA, Reino Unido e Noruega. Uma base industrial e tecnológica competitiva minimiza os riscos da dependência de petróleo e evita a chamada “maldição dos recursos naturais”.


Com o pré-sal, o Brasil viu espaço para seguir esse caminho e estruturou novo modelo para o setor, com um regime regulador misto – concessão e partilha –, bem como mecanismos para fortalecer sua indústria de bens e serviços e ampliar a captura de receitas. A decisão coincidiu com um cenário de mudança tecnológica e acirramento da competição mundial por investimentos em exploração.


A revolução do shale gas e tight oil nos EUA (com potencial na Argentina, Austrália, Rússia e China) mudou a perspectiva de oferta de energia, com possíveis reflexos geopolíticos. O Iraque vem restabelecendo sua estabilidade política, e suas gigantescas reservas (143 bilhões de barris, a terceira maior do mundo) atraem majors do setor. Um acordo com os EUA trará o Irã (a quarta maior reserva mundial de óleo e a segunda de gás) de volta ao jogo. A Rússia criou um ambiente favorável e atraiu a Exxon para recuperar campos maduros e desenvolver com a Rosneft blocos no Mar de Kara, no Oceano Ártico, com potencial de 36 bilhões de barris. O Líbano inaugurou suas rodadas com blocos no Mar Mediterrâneo, onde a americana Noble descobriu gás.


Na África, apesar do déficit institucional, uma série de mercados de fronteira evidencia oportunidades para empresas de diferentes portes e perfis. Uganda, Moçambique e Tanzânia, com investimentos de Anadarko e ENI; Gana e Congo, onde as arrojadas Tullow e Cobalt abrem caminho; e Serra Leoa, com a importante descoberta de Júpiter, da Anadarko. O continente também atrai brasileiras como Petra, Cowan, HRT e Petrobras/BTG.


Na América Latina, Colômbia e Peru colhem frutos da abertura bem-sucedida e dão exemplo ao México, que empreendeu reforma a fim de atrair parceiros para a Pemex. Suriname e a Guiana Francesa são alvo de interesse da Shell e da Total. Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela têm atraentes oportunidades, embora ofuscadas por iniciativas radicais. Após “renacionalizar” a YPF, a Argentina quer se tornar atrativa à exploração das gigantescas reservas não convencionais de Vaca Muerta, onde a Chevron investirá US$ 1 bilhão.


Enfim, a oferta mundial de blocos envolve dezenas de países, evidenciando que a 1ª rodada do pré-sal no Brasil foi apenas o teste de um modelo que terá rivais relevantes na disputa por investimento.


Nessa conjuntura, o Brasil é atrativo? Sim, embora importantes entraves desencorajem investimentos: carga tributária e burocracia para seu cumprimento; complexidade da aferição de conteúdo local; incompatibilidade de regulamentos entre as esferas da federação, sobretudo no tema ambiental; baixa qualidade da infraestrutura; parque fornecedor incipiente; pouca disponibilidade de trabalho qualificado.


Os recursos do Brasil, tanto institucionais quanto naturais, são, porém, consideráveis. A estabilidade política brasileira e a atuação técnica da ANP são diferenciais relevantes. A potencialidade geológica offshore e, com menos exuberância, a onshore são muito estimulantes ao investimento.
Se esses fatores serão suficientes para suportar, num cenário de competição, um modelo exploratório que busca internalizar, de forma ampla, os benefícios do petróleo e gás, só o tempo e os esforços do país serão capazes de dizer.

Marcos Cintra é mestre em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (PPED/IE/UFRJ) e especialista em Economia e Gestão em Energia (Coppead-UFRJ)

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