Opinião

Como a indústria química pode sair da crise

O estudo constatou que as oportunidades de investimentos identificadas apenas no segmento primário podem somar de US$ 33 bilhões a US$ 47 bilhões entre 2015 e 2030

Por Redação

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A indústria química enfrenta momentos difíceis no Brasil há quase uma década: acostumada a déficit estável entre US$ 6 bilhões e US$ 9 bilhões no período 2000-2006, foi surpreendida com prejuízo de US$ 28 bilhões em 2007 – e este número só cresce, tendo atingido os US$ 32 bilhões em 2013. De acordo com estudo realizado pela Bain & Company, a razão para tal mudança está centrada em dois fatores principais: o descompasso entre o crescimento da produção na indústria química nacional e a evolução do consumo doméstico; e o aumento do valor agregado das importações em relação às exportações de produtos químicos.

Para reverter esse cenário, a consultoria avaliou oportunidades de diversificação da indústria química brasileira, com ênfase em produtos químicos de maior valor agregado, no fortalecimento e expansão das cadeias produtivas e no desenvolvimento e implantação de novas tecnologias. Além disso, identificou e classificou 66 segmentos na indústria química em primário, secundário ou terciário, de acordo com o potencial de competitividade do Brasil em cada um deles.

O estudo  constatou que as oportunidades de investimentos identificadas apenas no segmento primário podem somar de US$ 33 bilhões a US$ 47 bilhões entre 2015 e 2030, com ênfase em cinco segmentos: Defensivos, Derivados de Petroquímicos, Químicos para E&P, Aditivos Alimentícios e Oleoquímicos. Se os aportes forem materializados, o déficit na balança comercial do setor pode ser reduzido de US$ 22 bilhões a US$ 38 bilhões anuais em 2030. Além desses, outro segmento de destaque encontrado foi a produção de energia a partir de fontes renováveis, especialmente biomassa, que pode contribuir com US$ 15 a US$ 35 bilhões de faturamento para a indústria em 2030, impactando positivamente a balança comercial brasileira.

No entanto, para que esses números se tornem realidade, é fundamental a implantação de políticas e ações que aprimorem as condições de competitividade da indústria química no Brasil. De acordo com a Bain & Company, atualmente o país não é competitivo para atrair investimentos produtivos para grande parte das oportunidades identificadas ao longo do estudo. Com isso, os desafios de competitividade e as respectivas propostas de endereçamento são consolidados e priorizados em seis grupos principais:

1)    Agregar valor ao petróleo e gás natural de propriedade da União, do pré-sal, destinando-os a investimentos produtivos de longo prazo e que sejam internacionalmente competitivos;
2)    Aprimorar o ambiente regulatório;
3)    Adicionar valor ao agronegócio brasileiro, por meio de investimentos na produção local de químicos produzidos com base em matérias-primas derivadas da biomassa;
4)    Desenvolver e implementar investimentos destinados a melhorias na infraestrutura logística que suporta as cadeias produtivas químicas locais nos modais ferroviário, rodoviário e marítimo;
5)    Aumentar os esforços de inovação tecnológica com prioridade estratégica para os segmentos de foco primário e a química da biomassa; e
6)    Simplificar o sistema tributário.

Ao todo, as iniciativas apresentadas evidenciam um impacto de até US$ 38 bilhões na balança comercial de 2030. Estima-se ainda que, até aquela data, haja a necessidade de investimentos de US4 33 bilhões a US$ 47 bilhões para capturar as oportunidades identificadas no estudo.

Por fim, o total de investimentos potenciais nas oportunidades identificadas tende a trazer benefícios significativos, como o aumento do PIB do país e a geração de empregos. Avaliando-se os prováveis benefícios provenientes das oportunidades apontadas nos segmentos de Defensivos, Petroquímicos, Químicos para E&P, Aditivos Alimentícios e Oleoquímicos, que são os segmentos em que essas oportunidades exercem maior impacto na balança comercial, estimam-se para 2030 US$ 17 bilhões por ano de PIB adicional, além de US$ 19 mil novos empregos diretos.


Rodrigo Más é sócio da Bain & Company

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