Opinião

A crise financeira da Petrobras

A coluna bimestral de Wagner Freire

Por Redação

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“What are the chances of Brazil’s state owned oil giant Petrobras going bankrupt? A 32% chance, to be precise.” Assim o analista Anderson Antunes intitula o artigo, publicado em dezembro na Forbes, comentando a análise da Macroaxis, uma firma de avaliação de investimentos sediada em São Francisco, Califórnia. A análise é baseada no “Z-score”, uma fórmula de previsão probabilística de falência em um horizonte de dois anos baseada em dados financeiros das companhias, desenvolvida em 1976 pelo pesquisador da Universidade de Nova York E. Altman. Se a análise fosse baseada nos resultados da Petrobras em 2013, a probabilidade seria ainda maior. A Macroaxis analisa muitas companhias, com resultados variados. A ExxonMobil tem probabilidade de 0,86%; a PetroChina, 12,27%; e a Petrobras Argentina, 85,06%.

Mas, é claro, são apenas análises probabilísticas. Como a União detém o controle da Petrobras, o governo tem poderes para, distante das boas práticas de governança corporativa, evitar um colapso dessa natureza. Na verdade, é o próprio governo que, com total abandono de tais práticas, vem motivando uma crise sem precedentes na história da companhia.

O balanço da Petrobras em 2013 em dólares, moeda de referência da indústria do petróleo, mostra um discreto decréscimo das receitas em relação a 2012, de US$ 144,10 bilhões para US$ 141,46 bilhões, e do lucro, de US$ 10,93 bilhões para US$ 10,83 bilhões. Os resultados só não foram mais negativos devido à lamentável alienação, por US$ 6,29 bilhões, de ativos de E&P da companhia no Brasil e no exterior.
A análise, porém, dos segmentos de Refino/Transporte/Comercialização (downstream) e de E&P mostra o grande contraste. O E&P, cuja receita se acha indexada ao Brent e ao dólar, continuou dando suporte aos lucros da companhia, com US$ 19,55 bilhões. Já o downstream teve prejuízo de US$ 8,17 bilhões, resultado da ingerência do controlador, impedindo que a companhia pratique preços de mercado na comercialização de diesel e gasolina.

Há outros indicadores desfavoráveis. A produção está praticamente estagnada há quatro anos, entre 2,5 MM e 2,6 MM de boe/d, e suas reservas provadas passaram de 16,4 bilhões de boe em 2011 para 16,6 bilhões de boe no último ano, a despeito do pré-sal. Por outro lado, a companhia continua investindo pesadamente, num nível incompatível com sua geração de caixa (Ebitda) e sua capacidade de gerenciamento em nível executivo, passando de 1,54 em 2012 para 1,63 em 2013. Como consequência, aumenta seu grau de endividamento em relação à geração de caixa, que passou no mesmo período de 3,48 para 3,88. Temos ainda o custo Brasil, expresso no lifting cost local, de US$ 14,76/bbl, 55% mais caro que no exterior, onde é de US$ 9,50/bbl.

O subsídio aos derivados tem implicações muito mais amplas, para além das dificuldades da Petrobras. Ele repercute na produção do etanol, muito importante para o país, que deixa de ser competitivo.

Outro sério problema é a escassez de chuvas, que tem alongado o uso das térmicas a gás natural. A oferta de gás é formada atualmente por uma parcela maior de combustível importado do que o produzido no país. Algo como 48 milhões para 44 milhões de m3/d. E pior: o gás importado via GNL, muito mais caro do que o que vem da Bolívia, aproxima-se de 40% do total importado, com relevantes impactos na economia. Em 2013, a balança comercial brasileira teve uma contribuição negativa do gás de US$ 6,96 bilhões (a importação líquida de petróleo e derivados deu contribuição negativa de US$ 13,17 bilhões). E há poucas chances de esse quadro se alterar a curto e médio prazo.

É cada vez mais evidente que o governo cometeu um erro estratégico ao mudar o marco regulatório, introduzindo o modelo de partilha. Essa mudança suspendeu as licitações por vários anos e “bloqueou” 149 mil km2 nas bacias de Campos e Santos. Espantosa é a obrigação da Petrobras de ser o operador único, participando de todos os contratos de partilha, mesmo daqueles que sua avaliação técnica e econômica não recomende!

Ainda há salvação. Basta rever o marco regulatório e permitir que a Petrobras pratique preços de mercado!

A coluna de Wagner Freire é publicada a cada dois meses
E-mail freire.wagner@hotmail.com

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