Opinião

Produção de shale gas nos Estados Unidos – crescimento ou declínio?

Por Redação

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Em dezembro de 2014, a revista norte-americana Nature publicou um artigo apontando  divergências importantes entre as projeções de produção de shale gas da Universidade de Texas-Austin e a Energy Information Administration (EIA), do Departmento de Energia dos Estados Unidos. Estudos da universidade chegaram à conclusão de que a produção de shale gas em quatro das principais formações produtoras (Marcellus, Fayeteville, Barnett e Haynesville) atingiria um pico de 600 milhões de m3/dia em 2020, caindo para 460 milhões de m3/dia em 2030, enquanto as previsões da EIA indicam que a produção atingiria 850 milhões de m3/dia em 2020, mantendo-se constante até 2040. Ou seja, uma diferença de 390 milhões de m3/dia! A universidade do Texas alega que fez um estudo mais detalhado sobre as formações e sobre a localização dos chamados “sweet spots”, enquanto a EIA afirma que suas projeções contêm diversos cenários e que os pesquisadores de Austin são adeptos da teoria do “peak oil”.

Quais seriam as consequências para o comércio internacional de gás se as previsões da Universidade do Texas estivessem corretas? Nesse caso, a produção total de gás doméstico em 2030 seria de 2,3 bilhões de m3/dia, em vez dos 2,7 bilhões de m3/dia previstos pela EIA.

O consumo de gás no mercado doméstico é atualmente da ordem de 2,0 bilhões de m3/dia.  Além disso, o Departamento de Energia dos EUA está analisando pedidos de exportação de GNL totalizando 1,2 bilhões de m3/dia. O consenso da indústria é de que 6-7 desses projetos deverão ser efetivamente comissionados, demandando 310 milhões de m3/dia. Ou seja, se as estimativas da Universidade do Texas estiverem corretas, a produção de gás doméstica será suficiente para atender apenas o consumo doméstico e um punhado de projetos de exportação de GNL, com o risco de os EUA voltarem a importar gás natural.

Isso sem dúvida afetaria o nível de preços no mercado doméstico e internacional. Em 5 de janeiro de 2015 os preços de gás em Henry Hub (HH) estão cotados a $ 3,14/MMBtu. Em outubro de 2014 a EIA publicou um estudo sobre o impacto das exportações de GNL no mercado de energia nos EUA. Em um cenário de exportação de 220 milhões de m3/dia, ou seja, inferior ao consenso, o preço HH chegaria a $ 4,0/MMBtu em 2030, enquanto num cenário de oferta mais restrita o preço em 2030 chegaria a $ 8,0/MMBtu.  Nesse último caso, os preços de exportação de GNL americano para o mercado asiático seriam de no mínimo $ 15,2/MMBtu. Isso teria ramificações importantes na precificação do GNL, porque os compradores asiáticos têm demonstrado preferência por preços “cost plus” em lugar de preços indexados ao petróleo Brent. Mas se o preço do petróleo subir para $ 80-85/barril e se mantiver nesse patamar até 2030, o preço do GNL indexado a HH seria superior à paridade com o petróleo, com implicações importantes na competitividade do gás natural com os derivados de petróleo.

Isso também impactaria o mercado brasileiro de GNL, porque o preço para o Brasil no mercado spot é similar ao preço no mercado asiático, e porque preços para contrato de longo prazo estariam atrelados a HH.

A recente decisão do Departamento de Comércio americano de autorizar exportações de petróleo deverá garantir um folêgo renovado aos produtores de petróleo produzido em associação ao shale gas. A entrada de volumes adicionais de petróleo leve em um mercado já superabastecido deverá pressionar ainda mais para baixo os preços internacionais de petróleo.  Caso isso se mantenha no longo prazo, poderá haver um descolamento inverso entre HH e os preços do petróleo. De toda sorte, é inegável que existe um declínio pronunciado da produção de poços de shale gas após o primeiro ano de produção, que tem sido contrabalançado pelo aumento de produtividade dos poços horizontais e, apesar de anos prolongados de baixos preços HH, a produção de shale gas nos EUA tem aumentado continuamente.

Além disso, mesmo que haja um declínio de produção de shale gas a partir de 2020, ainda assim a produção americana de gás seria fenomenal quando comparada à de outros países, cerca de 2 bilhões de m3/dia. O país teria ainda se beneficiado por mais de 10 anos de preços baixos de gás natural, com tremendos impactos na economia americana – existem estimativas de que o impacto do shale gas no PIB americano contribuiria com 0,75 pontos percentuais para o crescimento do PIB em 2020. A revista Forbes estima que o setor de shale (petróleo e gás) poderia turbinar ao PIB anual de 2%-4% em 2020, equivalente a $ 380-$ 690 bilhões.

A coluna de Ieda Gomes
é publicada a cada dois meses
E-mail: ieda@energixstrategy.com

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