Opinião
Supply chain em óleo e gás
A coluna bimestral de Armando Cavanha Filho
O processo produtivo de petróleo pode ser decomposto em duas diferentes cadeias de suprimento: uma de fluidos (óleo, gás, condensado, etc.) e a outra de bens e serviços (materiais, equipamentos, mão de obra especializada e geral).
Os fluidos, que são os produtos e geram receita com o seu tratamento e venda, nascem dos reservatórios, a partir de reservas descobertas. Formam o primeiro supply chain, um processo em série. Já bens e serviços, que são considerados custo, cruzam todos os segmentos produtivos da primeira cadeia. Este segundo supply chain é um processo em paralelo.
Os desafios das recentes descobertas brasileiras em óleo e gás estão presentes nas duas cadeias. Para os fluidos, há demandas de pesquisa e desenvolvimento com relação a características dos reservatórios, porosidade, permeabilidade, profundidade, pressão, temperatura, presença de CO2, viscosidade, existência de camadas de rochas especiais, etc. São desafios de natureza mais científica, ligados a geologia e engenharia de reservatórios. Essa área de conhecimento, conhecida como “soft science”, é fundamentada na física e na química aplicadas à geologia, com um grau de probabilismo intenso.
Para bens e serviços, as novas questões se referem às soluções de recursos para grandes espessuras de água, correntes marítimas, grande profundidade dos poços, distâncias logísticas da costa na faixa de 200 km ou mais. As operações se darão em regiões sem nenhuma infraestrutura física de apoio, com escoamento ainda não disponível. Esse conjunto de demandas, por vezes chamadas de “hardware engineering”, são de alta demanda de engenharias mecânica, naval, equipamentos, eletrônica, focalizadas em dimensionamentos antes não executados para estruturas móveis de grandes dimensões físicas. Navios, FPSOs, linhas flexíveis, subsea especial, poços diferenciados. E mais uma enorme quantidade de recursos para variáveis até então não experimentadas.
As duas demandas em supply chain a vencer requerem formação básica, científica e técnica em qualidade, quantidade e continuidade para compor soluções e inovações quase diárias.
A primeira cadeia requer grau máximo de controle e nacionalização inteligente. Nesse campo residem as estratégias de incorporação de reservas, níveis de produção, seleção de objetivos geológicos, qualificação e tratamento de reservatórios. O Brasil, nesse ambiente, está operacionalmente saudável, apesar de ocasionalmente demandar ajustes em inovação.
A segunda cadeia, mais técnica do que científica, normalmente requer participação dos grandes solucionadores internacionais. Temos, no Brasil de hoje, pouca infraestrutura básica e fabril para certos equipamentos e serviços especializados. Nos recursos nos quais se requer contato com os fluidos, mais sensíveis, temos ainda importantes desenvolvimentos a realizar. Nos temas mais gerais, que demandam mais volumes e organização do que tecnologia, temos espaço para os recursos locais, apesar de não o ocuparmos de forma ainda suficiente.
Os sistemas universitário e empresarial brasileiro vêm incrementando convênios, redes, teses, treinamento, identificação de necessidades futuras e centros de pesquisas especializados. Parte dos recursos vem de parcela legal de tributos de petróleo. Mesmo que as ações ainda sejam mais operacionais do que científicas e inovadoras, o “arraste” de conhecimento naturalmente se inicia. É fundamental garantir a continuidade nesses processos de pesquisa e desenvolvimento. É preciso ter meta, objetivo e consequências nos resultados. Em outras partes do mundo foi assim, como no Japão, na Coreia, e agora na China. Deverá ser, também, com o Brasil.
A coluna de Armando Cavanha Filho é publicada a cada dois meses
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