Opinião

Tendências recentes no mercado de petróleo e GNL

O mercado argentino, com grande demanda de GNL e compras anuais de curto prazo, passa a tornar-se mais atraente

Por Redação

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As previsões de queda do preço do petróleo se superam continuamente. Na minha última coluna, publicada em outubro de 2015, previsões de preço de US$ 20/barril já começavam a ser ventiladas, mas eram consideradas extremamente pessimistas. No início de 2015, diversos analistas ainda previam preços de US$ 90/barril no segundo semestre de 2015, enquanto executivos de companhias petrolíferas estimavam que os preços não cairiam abaixo de US$ 40 por barril no final do ano passado.

Em 15 de janeiro de 2016 o petróleo Brent fechou abaixo de US$ 30/barril e análises publicadas por diversos bancos de investimento avaliam que os preços poderão cair para US$ 16-US$ 10/barril em 2016. A esses preços tão baixos, torna-se inviável iniciar novos projetos de exploração em águas profundas ou investir em novos poços de gás e óleo de folhelho (shale). 

Países exportadores estão em dificuldades, em particular aqueles onde o petróleo é o pilar da economia; no caso da Malásia, por exemplo, estima-se que o país perde quase US$ 70 milhões por cada dolar de redução do preço do barril de petróleo. Na Arábia Saudita, o déficit no orçamento em 2015 foi de US$ 98 bilhões, forçando o governo a cortar o orçamento em 14%. Para contrabalançar um pouco as perdas orçamentárias, o governo saudita foi forçado a aumentar em 50% o preço da gasolina, que passou de R$ 0,65/litro para R$ 0,97/litro, ainda assim um terço do preço da gasolina no Brasil.

O comércio de gás natural também será atingido em duas frentes. A primeira refere-se aos preços contratuais, que, vinculados ao preço do petróleo, também recuarão, tanto no mercado spot como em contratos de médio e longo prazo, inviabilizando novos investimentos. Como os derivados de petróleo também estão mais baratos, grandes consumidores estarão menos propensos a investir na conversão de óleo combustível ou diesel em gás natural. Por outro lado, a oferta de GNL está excedendo a demanda, pois novos projetos de liquefação entram em operação na Austrália e nos Estados Unidos, enquanto os chamados mercados prêmio da Ásia, Japão, China e Coréia do Sul estão estagnados ou em baixa.

O volume de GNL comercializado globalmente em 2015 atingiu 245 milhões de toneladas por ano,  um acréscimo de apenas 1,6% com relação a 2014. Em 2015 apenas três projetos de exportação de GNL foram aprovados pelos acionistas, Corpus Christi LNG (Texas) e a expansão dos projetos de Sabine Pass (Louisiana) e North West Shelf (Austrália). Em 2016 existe uma lista de seis a sete projetos aguardando a decisão final de investimento, mas, em todos os casos, os acionistas estão adiando qualquer decisão para o final do ano.
Não se sabe quanto tempo essa situação de excesso de oferta vai perdurar. Em última análise, pelo menos até 2020-2021, quando a oferta atual poderá ser absorvida pelo crescimento do mercado.

O Brasil seria um mercado interessante para o GNL, devido à crescente necessidade de energia termoelétrica para compensar a menor disponibilidade de energia hidroelétrica. A realização de leilões anuais canaliza oportunidades de investimento com mercado garantido.
Mas ainda existe um grande descasamento entre certas condições dos leilões e a realidade dos contratos de GNL. Os preços do leilão não são particularmente atrativos, sendo prejudicados com a desvalorização do real. A notificação de despacho em 60 dias colide com a exigência de contratos de suprimento de GNL de 1 a 20 anos, acrescidos de exigência de responsabilidade solidária entre o investidor na usina térmica e o fornecedor de combustível. Os custos fixos do terminal de GNL e gasoduto de interligação ainda não são adequadamente refletidos no ICB, nem o custo fixo do take or pay do GNL.

Outros mercados emergentes começam a preencher o vácuo dos mercados tradicionais asiáticos, com destaque para a Argentina e o Paquistão. O mercado argentino, com grande demanda de GNL e compras anuais de curto prazo, passa a tornar-se mais atraente, principalmente se o novo governo solucionar questões relativas ao crédito da empresa compradora. Em janeiro de 2016 a ENARSA anunciou a compra de seis cargas de GNL da Gas Natural Fenosa para o terminal de Escobar, para entrega em março, a um preço médio ligeiramente acima de US$ 5,0/MMBtu. O Paquistão, que levou dez anos para concluir seu primeiro projeto de importação,  está realizando uma licitação para comprar 120 cargas de GNL nos próximos cinco anos, a um preço contratual – segundo a imprensa local – de 13,37% Brent, ou seja, US$ 4,0/MMBtu aos preços atuais.

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