Opinião
Siddhartha Sen: Uma história não-convencional em desenvolvimento
Em artigo, diretor da IHS Markit afirma que desenvolvimento da formação de Vaca Muerta, na Argentina, ainda tem desafios pela frente
A região de Vaca Muerta na Argentina é identificada como o próximo local de destaque para a exploração e produção de recursos não-convencionais.
Nos Estados Unidos, o desenvolvimento de reservas do tipo teve um impacto significativo em toda a cadeia de suprimentos da indústria de petróleo e gás. Isso pode ser visto pelo ângulo de fatores macro, que vão desde os preços das commodities e novos fornecedores que entram no mercado até as habilidades profissionais necessárias no novo cenário.
O crescimento em termos de volume de produção foi o foco de atenção nos últimos anos, mas agora a disciplina de capital se tornou o tema central. A região de Vaca Muerta é uma das reservas de petróleo e gás mais promissoras do mundo. Agora, a está em processo de transição, e precisaremos esperar para ver como essa história vai se desenvolver. Somente o tempo dirá se os investimentos vão gerar volume ou qualidade no longo prazo.
A atividade não convencional em Vaca Muerta teve início em 2011 com a Repsol YPF, e, dois anos depois, havia mais de 100 poços perfurados na região. Embora a produção de gás em formações de baixa permeabilidade (tight gas) tenha superado a produção de gás de folhelho (shale gas) em 2016, espera-se que a maior parte da atividade no futuro seja voltada ao desenvolvimento desse último tipo de recurso.
A região é considerada um caso de sucesso na exploração e no desenvolvimento de recursos não convencionais fora dos EUA. Há muitas empresas ativas na região, sendo que a YPF lidera a maior parte dos projetos. Entre outras petroleiras que estão desenvolvendo ativamente Vaca Muerta estão a Chevron, Shell, Equinor, Total e Pluspetrol.
A formação argentina se beneficiou das atividades de desenvolvimento em reservas não convencionais norte-americanas. As empresas em Vaca Muerta ampliaram laterais e reduziram o espaçamento entre as fraturas a fim de alcançar ganhos de eficiência e otimizar as estruturas de custo, aplicando as lições aprendidas nos EUA.
O custo da perfuração de um poço horizontal na região diminuiu significativamente nos últimos anos, passando de US$ 14 milhões em 2014 para cerca de US$ 8,25 milhões atualmente. O break-even dos projetos na região também foi reduzido no período, de aproximadamente US$ 94/barril para US$ 40/barril.
A redução de custos tem um papel importante na viabilidade econômica da formação de Vaca Muerta. Por exemplo: uma redução de 10% nos custos de perfuração e completação pode aumentar o valor presente líquido do projeto de desenvolvimento em aproximadamente 5%.
O investimento total em Vaca Muerta deve atingir seu pico por volta de 2030. A maior parte dos aportes no curto prazo será impulsionada pelos blocos que já estão sendo explorados e desenvolvidos . Naquele ano, a expectativa é que os investimentos em ativos previstos para iniciar produção a partir de 2020 irão superar os direcionados aos projetos em operação.
Embora os investimentos no desenvolvimento de Vaca Muerta devam aumentar, será importante acompanhar a evolução do equilíbrio entre o crescimento volumétrico e o retorno dos investimentos na região. Além disso, desafios como infraestrutura e disponibilidade limitadas de fornecedores de bens e serviços também representam incertezas para o desenvolvimento da formação.
É possível que as empresas façam investimentos conjuntos no desenvolvimento da infraestrutura de Vaca Muerta. Um cenário competitivo com diversas petroleiras compartilhando e adotando tecnologias, práticas recomendadas e soluções criativas para levar os crescentes volumes de produção às regiões de demanda será positivo para o desenrolar da história da formação de Vaca Muerta.
Siddhartha Sen é diretor de Energia, Pesquisa e Análise da IHS Markit.