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Sustentabilidade da cadeia produtiva das UHE de pequeno porte

Leilão A-5 deve recuperar demanda zerada há dois anos para equipamentos de PCHs, CGHs e UHEs de até 50 MW. Mas os produtores independentes tem sido bons clientes

Por Liana Verdini

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PCH Martins, em MInas Gerais: PCHs e CGHs poderão participar do leilão de energia nova em julho (Foto: Cemig)

O Leilão de Energia Nova A-5, previsto para julho deste ano, está sendo considerado decisivo para a indústria fornecedora de equipamentos para PCHs e CGHs. Do leilão podem participar tanto CGHs, PCHs e UHEs com potência igual ou inferior a 50MW, como também projetos para ampliação de usinas já existentes com potência igual ou inferior a 50MW.

Desde 2021, a média de contratação nos leilões realizados está declinante. Naquele ano foram contratados 334 MW médios em dois leilões. No ano seguinte (2022) foram 238 MW médios contratados em apenas um leilão. E nos anos de 2023 e 2024 nada foi contratado. Agora, a expectativa é enorme e envolve, inclusive, o futuro dessa indústria.

“Considerando esse histórico recente, aliado à ampliação da abertura de mercado e ao avanço expressivo da energia solar na Geração Distribuída, a expectativa é de que a demanda no próximo leilão se mantenha em patamares reduzidos”, avalia Augusto Machado (foto), presidente do Sindicato Intermunicipal das Empresas de Geração, Transmissão e Distribuição de Energia do Estado de Minas Gerais (Singtd). “Assim, é provável que o volume contratado fique próximo ou até mesmo abaixo de 100 MW médios. Se isso ocorrer, o resultado deste leilão não será bom”.

Para Machado, a manutenção da indústria nacional de equipamentos para hidrelétricas depende de o leilão gerar alta demanda e a contratação de diversos projetos hidrelétricos de até 50 MW. “Atualmente, não há grandes hidrelétricas em desenvolvimento ou prontas para leilões no curto prazo, o que torna as usinas de menor porte (UHEs de até 50 MW, PCHs e CGHs) fundamentais para a sobrevivência dessa indústria, que é uma referência mundial”.

O presidente do Singtd acha que, devido à importância estratégica desse segmento da indústria e das hidrelétricas, o governo deveria adotar medidas para garantir sua continuidade e sustentabilidade. “A manutenção dessa indústria não apenas preserva ou gera empregos e expertise técnica, mas também fortalece a segurança energética do país”.

O pessimismo do sindicato mineiro não encontra eco na própria indústria mais ao sul do Brasil. Segundo Luiz Antonio Valbusa (foto), sócio-diretor da empresa Semi Industrial Ltda., fabricante de turbinas e equipamentos para PCHs e CGHs, estabelecida em São José dos Pinhais (PR), o setor não está em crise. Se não acontece leilões, a demanda do setor privado não deixa a desejar. “Ano passado e retrasado foram excelentes”.

Ele também considera que a expectativa é grande para esse leilão e lembra existir projetos que, somados, totalizam 10 GW disponíveis para construção, só de hidrelétricas abaixo dos 50 MW. “Se considerarmos as usinas com capacidade de geração acima de 50 MW, médias e grandes hidrelétricas, há projetos para duplicar a capacidade instalada, mais uns 100 GW de potência. Por tudo isso, a expectativa é enorme para esse leilão”.

Valbusa lembra que há dois anos havia o dobro de pedidos na carteira de sua fábrica. “Percebo uma quantidade significativa de projetos represados”. Enquanto o mercado de energia contratada não deslancha, a cadeia produtiva está se sustentando, segundo o executivo, com as encomendas dos projetos privados de autoprodução, como do setor industrial e do agronegócio. “Estamos nesse mercado há 30 anos. Já passamos por muita coisa. E continuamos gerando emprego e renda aqui no Brasil com os projetos dos nossos clientes”.

Ele estima que todos os projetos licenciados de PCH e CGH totalizam 9 GW, o que corresponde a umas 300 usinas novas. Em média, em cada usina, são instaladas duas turbinas. “Só aí temos a necessidade de 600 unidades geradoras para que cada nova instalação produza em toda a sua potência”, contabiliza. Como toda a indústria fornecedora de equipamentos para usinas hidrelétricas no país tem capacidade para produzir 150 máquinas por ano, seriam 4 anos de carteira cheia para todo esse segmento fornecedor.

De sua parte, a presidente da Abrapch, Alessandra Torres (foto) faz coro com Valbusa, quando observa que a cadeia produtiva das pequenas geradoras gera emprego, mais renda e mais vegetação replantada. Sim, esse é um ponto que ela faz questão de frisar em defesa do segmento. Segundo Torres, a vegetação replantada, em média, ocupa uma área três vezes maior do que a que foi removida para a obra.

Defensora da construção de usinas com reservatórios, para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, a presidente da Abrapch lembra ainda que as pequenas centrais hidrelétricas começaram a ser implantadas há quase 130 anos no interior de São Paulo e Minas Gerais e “as comunidades sempre se desenvolveram ao longo dos rios no mundo inteiro”.

Os dados mais atualizados do Sistema de Informações de Geração da Aneel (Siga) indicam que as usinas de origem hídrica respondem por 52% da matriz energética do país, sendo 49% das UHE e 3% das PCH e CGH.

A nota técnica “Potencial Hidrelétrico Brasileiro” do Plano Nacional de Energia 2030 indica que apenas 30% do potencial hidrelétrico nacional já foi explorado. “Estamos desperdiçando nosso potencial hídrico e somos um país de vocação hídrica”, comenta Alessandra Torres. “Não podemos esquecer que as hidrelétricas são bens da União, relicitadas a cada fim de contrato”, argumentando que, com isso, e com a longevidades dos ativos das hídricas, as tarifas tendem a baixar com a amortização do investimento realizado.

 

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