Opinião
A sustentabilidade como valor profissional
Organizações modernas devem estar atentas à questão ambiental, especialmente no setor petróleo
Quando comecei a cursar Engenharia, cerca de 40 anos atrás, na UFRJ, no primeiro ano já cursávamos uma disciplina com o nome “Introdução à Engenharia do Meio Ambiente”. Naquela época, o assunto meio ambiente era praticamente ignorado como sendo uma variável de importância para a sociedade e pouco sensibilizava a mídia. Aqueles com vocação e perfil para atuar em sua defesa eram preconceituosamente chamados de “bicho-grilo”, dentre outros adjetivos pejorativos. A palavra “sustentabilidade” sequer possuía significado em nosso glossário diário.
Décadas depois, me vi surpreendido ao ver que jovens estudantes de Engenharia que oriento e recém-ingressos na mesma universidade, ainda tenham, na sua grade curricular de engenharia, a mesma disciplina, com a mesma carga horária de décadas atrás (45 horas-aula), que é de baixa representatividade na formação profissional.
Tal situação me levou a concluir que os aspectos necessários ao novo perfil exigido de profissional para atuar em áreas de infraestrutura, como petróleo e energia, estão ainda sendo pouco priorizados em nosso sistema de formação, o que gera baixa sensibilização quanto ao tema na mentalidade e nos valores dos jovens profissionais.
Para aqueles profissionais com mais de 50 anos de idade, tal lacuna em formação acadêmica poderia até ser justificada, pois o principal marco regulamentador nacional das exigências de procedimentos ambientais para gerenciamento e implantação de projetos surge basicamente em 1986, com a Resolução CONAMA 001, que, aliás, é ainda pouco conhecida por muitos profissionais de engenharia.
Na linha da percepção de formação de gestores, em 1998 – quando criamos, com a Professora Suzana Kahn, o primeiro MBA na área de Petróleo na COPPE e o de Energia na FGV-RJ, e quando ministrava a disciplina de “Implantação de Empreendimentos” –, me causou estranhamento que muitos profissionais – alguns já executivos de empresas privadas e públicas – desconheciam acrônimos e expressões básicas da área como EIA, RIMA, Medidas Compensatórias e Mitigadoras, Bacia Aérea, Pegada de Carbono, Gerenciamento de Resíduos, Logística Reversa, entre outras.
Ou seja, o licenciamento ambiental era visto como uma burocracia secundária e de caráter terceirizável para o desenvolvimento de um projeto. Os impactos ao meio ambiente de um empreendimento seriam apenas riscos mitigáveis pela contratação de uma consultoria e não um valor fundamental de consciência pessoal e profissional. Os princípios básicos para avaliar e desenvolver um empreendimento se restringiam prioritariamente a considerações financeiras e na obtenção do maior Valor Presente Líquido (VLP), onde o meio ambiente impactava como mero vetor de custo financeiro e não como uma externalidade fundamental.
Essa distorção no processo de formação dos profissionais deixou lacunas importantes, com consequências materiais à sociedade e ao meio ambiente, gerando perdas financeiras para grandes organizações e danos significativos a imagens corporativas.
Para a mudança esperada nesse cenário, devemos incentivar que organizações modernas estejam mais atentas à questão da sustentabilidade e que reconheçam e valorizem o assunto. As áreas de Recursos Humanos de muitas organizações já começaram a diferenciar tais perfis por dinâmicas de grupo e em seus planos de encarreiramento, identificando profissionais que tenham participado de programas de formação complementar no tema e até de voluntariado ambiental, como sendo um traço de postura e de perfil profissional desejável.
Muitas organizações modernas já promovem programas internos para despertar e potencializar tal consciência de modo a forjar um perfil desejável de seus profissionais e executivos, além de contribuir para os resultados financeiros e a imagem de organização.
No setor petróleo, diante de seu potencial financeiro e dos riscos ambientais associados ao negócio, esse perfil de sustentabilidade do profissional será cada vez mais desejável – senão obrigatório –, tendo em vista as crescentes exigências da legislação nacional e internacional, especialmente por parte das agências reguladoras.
Wagner Granja Victer é engenheiro (UFRJ) da Petrobras, bacharel em Administração (UERJ), pós-graduado em Finanças (FGV) e em Gerência de Projetos pela Harvard University.