Energia, novas tecnologias, segurança e a geopolítica
Opinião
Energia, novas tecnologias, segurança e a geopolítica
Diversos temas se entrelaçam e ganharão muita atenção nos próximos anos daqueles que trabalham e estudam as estratégias do tema Energia no Brasil e no Mundo
Nas últimas décadas, o tema Energia tem recebido crescente atenção, não apenas por sua relevância estratégica diante de conflitos geopolíticos, mas também por sua relação direta com os efeitos climáticos adversos e pela multiplicidade de fontes, soluções, aplicações e até impactos sociais.
As discussões sobre energia ultrapassam o âmbito das empresas do setor e alcançam o planejamento de carreiras profissionais, além de políticas públicas, por influenciar profundamente a dinâmica econômica de países e regiões. Um exemplo recente é a nova onda de construção de data centers impulsionada pelo uso crescente de soluções e ferramentas digitais.
Um estudo relevante que vale ser lido aponta que novas tendências é 10 Energy Megatrends 2025, produzido pelo MIT Technology Review em parceria com o Energy Summit, que apresenta desafios, oportunidades e ações estratégicas para a transição energética.
Segundo o estudo, o setor de energia ingressa em uma das décadas mais decisivas de sua história, especialmente em função da expansão dos data centers e da sua infraestrutura associada, que está demandando grandes investimentos na disponibilização de energia, nas redes de transmissão e em soluções de resfriamento mais eficazes.
Outro aspecto emergente é a chamada Ciber-Resiliência Energética, que consiste na capacidade de sistemas industriais e residenciais resistirem, responderem e se recuperarem de ataques digitais. Esse desafio cresce com o aumento do número de dispositivos conectados e com a convergência entre TI (Tecnologia da Informação) e TO (Tecnologia Operacional), ampliando a superfície de ataque e elevando muito o risco de interrupções.
Outra tendência, já consolidada, em especial na Europa, é o avanço dos veículos elétricos híbridos (HEV). Na primeira metade de 2025, grande parte dos veículos vendidos na União Europeia já adotava essa tecnologia, que combina motor a combustão com tração elétrica para reduzir consumo e emissões sem depender da recarga convencional por tomada.
Em outra vertente, ganha força o uso de biometano e biogás, diante do grande potencial ainda pouco explorado em resíduos sólidos urbanos (RSU), resíduos agropecuários e florestais, que possuem significativa capacidade de redução de emissões de gases do efeito estufa.
Destacam-se também as Usinas Virtuais de Energia (VPPs), que conectam milhares de pequenos recursos, como baterias residenciais, painéis solares, veículos elétricos, entre outros, operando-os como se fossem uma única usina.
Nesse contexto, surgem ainda as Deeptechs em Transição Energética, que deverão contribuir significativamente para a redução das emissões até 2050. São soluções que ainda se encontram em fase de testes, tipo protótipos ou projetos-piloto, muitas delas ainda em desenvolvimento mas que surgirão.
No campo do armazenamento de energia, observa-se o avanço de baterias de sódio, baterias de estado sólido e alternativas ao uso do lítio. Essas novas químicas buscarão reduzir custos, diversificar cadeias produtivas e ampliar a segurança e a densidade energética, diminuindo a dependência de poucos minerais e fornecedores.
Nessa área, o Brasil avançará bastante pela realização do primeiro leilão de armazenamento de Energia (BESS), em elaboração pela EPE e MME.
Nas diversas áreas do transporte, a descarbonização do transporte marítimo será um foco conforme as diretrizes do International Maritime Organization (IMO), já que a navegação internacional é responsável por cerca de 85% do volume de carga global e tem meta de chegar ao Net Zero até 2050. A indústria está em ritmo acelerado para desenvolver combustíveis marítimos com menor pegada de carbono para substituir o tradicional bunker, o óleo combustível marítimo.
Outra área também apresentada como tendência, e onde mais uma vez o Brasil assume a liderança pela Petrobras, é o Processamento Submarino Avançado de Óleo e Gás, levando as etapas de compressão, separação e bombeamento para o leito-marinho, próximo ao poço, e com isso reduzindo o gasto de energia por barril e o tamanho das plantas de processamento em superfície.
Um exemplo concreto disso é o projeto Hisep, já em desenvolvimento com verba de P,D&I na Ilha do Fundão, e que fará a separação do óleo e do gás no fundo do mar, de forma pioneira, no campo de Mero, operado pela Petrobras. No futuro, em evolução tecnológica usando modernas membranas, o Hisep permitirá o desenvolvimento de campos de gás natural com elevado teor de CO2 associado, como o campo de Júpiter. na Bacia de Santos.
Por fim, dentro das tendências, surge o foco na chamada Geopolítica da Energia e Cadeias Críticas, que o governo da Ucrânia deixou bastante expostas quando foram reordenadas as chamadas rotas de energia na Europa. No mesmo cenário as tensões no Oriente Médio e no Mar Vermelho estressaram a resiliência das cadeias logísticas globais.
Nessa mesma linha os chamados minerais estratégicos relacionados à energia como lítio, níquel, cobre, nióbio e terras raras ganharam mais relevância quando se relacionaram às estratégias e políticas comerciais dos Estados Unidos da América no governo Trump.
Esse conjunto de temas se entrelaçam e ganharão muita atenção nos próximos anos daqueles que trabalham e estudam as estratégias do tema Energia no Brasil e no Mundo.



