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A transição do parque brasileiro de UTEs a óleo para gás

A cada ano, novas usinas movidas pelo combustível mais limpo entram no sistema, mas a conversão das usinas a óleo para gás ainda é lenta. Na Amazônia, o desafio é a logística do gás, mais difícil que do diesel

Por Liana Verdini

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UTE Parnaíba VI, da Eneva: entrada em operação em março fechou o ciclo de Parnaíba III, com acréscimo de turbina a vapor de 87,2 MW (Foto: Divulgação/Eneva)

O Brasil tem ainda 2.154 usinas termelétricas movidas a óleo combustível ou diesel e apenas 177 usinas movidas a gás, conforme dados do sistema Siga, da Aneel. Tem-se a impressão de que os sistemas isolados da Amazônia, alimentados a óleo pela conveniência logística, são o fator de desequilíbrio, mas essas usinas somam menos de 10% do parque térmico brasileiro. Boa parte está na indústria espalhada pelo país e o óleo combustível que vem na raspa do tacho do refino continua sendo a fonte mais barata.

Olhando pela quantidade de usinas a óleo o panorama é desafiador. Mas considerando a capacidade do parque termelétrico, as 177 usinas a gás respondem por 59% da capacidade total do país, enquanto as usinas movidas a óleo garantem 23%. Os restantes 18% são a soma das capacidades das biotérmicas, as nucleares e a carvão.

E esta tendência da predominância das termelétricas a gás sobre as demais fontes vem se acentuando a cada ano. Hoje, as usinas a gás têm capacidade de 17,8 GW, mais do dobro de sua capacidade de vinte anos atrás, quando representavam uma potência de 7,6 GW.

Pelas projeções da Aneel, neste ano o Brasil terá a maior expansão da geração termelétrica desde 2013. Serão adicionados mais 3,18 GW na capacidade térmica, quase um terço da ampliação total de 9,95 GW de todas as fontes.

Termelétrica GNA II, em final de construção no Porto do Açu, vai adicionar 1,7 GW de potência ainda em 2025 (Foto: Divulgação/GNA)

A maior parte da expansão termelétrica virá de UTEs a gás, totalizando 2,39 GW de projetos negociados em leilões do setor regulado realizados no final da década passada. E os dois maiores são supridos por GNL: a GNA II, no Rio de Janeiro, e Barcarena, no Pará. 

Nos quatro primeiros meses deste ano, a matriz elétrica brasileira cresceu 1,9 GW. Nesse período, 49 novas usinas começaram a operar em 11 estados, nas cinco regiões do país, das quais sete são UTEs. E entre as sete novas usinas, apenas uma a gás natural e um sistema isolado alimentado a biodiesel.

Em abril entrou em operação a usina termelétrica a biomassa de cana Codora, em Goiás, com capacidade de 50 MW.

Em março foram duas novas usinas, totalizando 113,4 MW. A usina Parnaíba VI fechou o ciclo da térmica MC Nova Venécia 2, que a Eneva nomeia Parnaíba III, localizada em Santo Antônio dos Lopes (MA), adicionando potência autorizada de 87,22 MW – as duas passam operar em ciclo combinado. A outra foi uma UTE da Inpasa Balsas, capaz de gerar 26,18 MW com biomassa de milho.

Em fevereiro, entrou em operação apenas uma usina termelétrica a biomassa de milho, a Inpasa Sidrolândia, com capacidade de 53,13 MW.

E no primeiro mês do ano houve acréscimo de 459 MW em três usinas termelétricas: duas a biomassa e uma a biodiesel. A Usina Termelétrica Central Geradora Suzano em Mato Grosso do Sul, com capacidade de 384 MW, opera a partir do licor negro e a UTE Bazan, também a biomassa, mas de cana. E, por último, a UTE Auxiliadora Powertech, para o sistema isolado do Amazonas, gerando energia a partir do biodiesel.

Além das termelétricas que contribuem para a segurança do Sistema Interligado Nacional, há ainda 175 sistemas isolados que fornecem energia para o setor elétrico brasileiro e que, como o nome indica, não estão conectados ao SIN. A maior parte dessas usinas funciona a base de óleo diesel ou combustível, pouca coisa a biomassa e gás natural, além de uma hidrelétrica, de acordo ainda com dados do Siga.

Usina a biodiesel da BBF em Roraima: sistemas isolados atendem 2,5 milhões de pessoas de 200 localidades no Norte e no Nordeste (Foto: Divulgação/BBF)

Os sistemas isolados abastecem cerca de 200 localidades no país, a maior parte na Região Norte. Vale ressaltar que a Amazônia Legal representa dois terços do território brasileiro, onde pequenas e remotas comunidades não justificam economicamente ainda uma rede de distribuição ligada ao SIN.

Os sistemas isolados estão localizados no Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Pernambuco, Rondônia e Roraima e atendem 2,5 milhões de consumidores. As usinas a diesel representavam mais de 79% da geração de energia elétrica nos Sistemas Isolados em 2022 mas caíram para 69% em 2023, último dado disponível, além de 22% de usinas a gás natural, 8% de projetos a biomassa e 1% da única hidrelétrica. Em 2024, a geração a partir do diesel deve ser reduzida para 67% do total, de acordo com projeção da EPE. 

Interligação ao SIN

O número de sistemas isolados vem caindo nos últimos anos e o planejamento da EPE indica que essa participação deverá diminuir progressivamente nos próximos anos, em razão das iniciativas governamentais de descarbonização, com destaque para o Programa Energias da Amazônia, e dos compromissos assumidos pelas concessionárias regionais.

Fonte: EPE

Até 2029, a EPE projeta a interligação de 33 localidades ao SIN, sendo 16 pela Equatorial Pará, 9 pela Roraima Energia, 5 pela Amazonas Energia, 1 pela Energisa Acre e outras 2 pela Vibra Energia, atendendo com duas conexões a Alcoa, no Maranhão.

Fonte: EPE

O caso da UTE Santa Cruz

A Usina Termelétrica de Santa Cruz é um exemplo de geradora a óleo que passou aos poucos a operar a gás. Isso aconteceu em 1987. Construída nos anos 60, foi projetada para operar com combustíveis líquidos de petróleo. Na primeira etapa da construção, foram instaladas duas unidades geradoras de 82 MW pela Companhia Hidroelétrica do Vale Paraíba - Chevap, empresa hoje extinta. Depois passou para a responsabilidade de Furnas que concluiu a obra e passou a operar a usina. Furnas já foi incorporada à Eletrobras e a UTE Santa Cruz passou ano passado a fazer parte do portfólio da Âmbar.

UTE Santa Cruz, de 600 MW, instalada no Rio de Janeiro, passou para o portfólio da Ambar em 2024 (Foto: Divulgação/Furnas)

A primeira unidade da UTE Santa Cruz entrou em operação comercial em setembro de 1967, e em 1973 a usina teve sua capacidade aumentada para 600 MW, com a operação de mais duas unidades a vapor de 218 MW cada, uma em fevereiro e a outra em agosto daquele ano.

Trinta anos mais tarde, em 2003, foi iniciada a modernização e ampliação da capacidade geradora da usina, com a instalação de duas turbinas projetadas para queimar gás como combustível principal. A primeira destas unidades geradoras entrou em operação em dezembro de 2004, disponibilizando ao sistema elétrico nacional mais 175 MW. A segunda unidade similar (175 MW) foi disponibilizada em 2010.

Depois disso, foi feita a implantação do fechamento do Ciclo Combinado, com fornecimento de duas novas caldeiras de recuperação de calor, com o reaproveitamento do calor dos gases de escape das turbinas a gás, nova turbina vapor, novo gerador e novos sistemas auxiliares mecânicos e elétricos, acrescentando mais 175MW de potência ao sistema elétrico nacional.

Aumento na matriz elétrica

O Plano Nacional de Energia 2030 da EPE constata que o gás foi a fonte primária de energia cujo uso teve maior crescimento na matriz energética brasileira desde o final dos anos 1980. O Plano Decenal 2034 prevê crescimento das UTEs a gás à taxa de 4,4% anuais. Já a capacidade termelétrica total, que em 2024 participava com cerca de 10% da matriz elétrica brasileira (24,1 GW), dentro de 10 anos deverá alcançar 12% (37,4 GW). Esse acréscimo inclui no Cenário de Referência 8.000 MW de expansão compulsória de termelétricas inflexíveis e aproximadamente 11.000 MW de usinas sem níveis mínimos de inflexibilidade.

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