
Opinião
A fotografia da bioeletricidade no PDE 2034
Em 10 anos, as renováveis cairão de 89,4% para 86,1 na matriz. Ante a reforma institucional do setor elétrico, é importante ousar mais nas estimativas de aproveitamento de fontes renováveis, como a biomassa e as pequenas hídricas

O Ministério de Minas e Energia (MME), com apoio da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), publicou a Portaria nº 831/2025, no dia 9 de abril deste ano, que aprovou o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2034, apresentando um planejamento detalhado para subsidiar a trajetória de transição energética no país, considerando o período de 2025 a 2034.
O PDE 2034 prevê um aumento de 25% na oferta interna de energia no Brasil nos próximos 10 anos. Contudo, mesmo mantendo a predominância da geração de energia elétrica baseada em fontes renováveis, o nível de renovabilidade da matriz elétrica apresentará uma redução esperada de 89,4% para 86,1%, caindo mais de três pontos percentuais entre 2024 e 2034, ainda um índice final extremamente notório em relação à média mundial.
Ainda assim, é interessante avaliar porque isto ocorrerá. A avaliação é que haverá, basicamente, um crescimento de 305% na geração de energia com gás natural no período e 82% na geração nuclear, mesmo que tenhamos uma redução de 28% na geração com carvão e um crescimento de 105% na geração fotovoltaica e 59% na geração eólica. Nesses dados, foram somadas a geração centralizada, a autoprodução e a geração distribuída.
Explicitar e discutir essas evoluções é relevante, indicando a previsão de expansão de fontes não renováveis, principalmente pela importância – cada vez mais patente – de suas contribuições para a segurança energética e elétrica.
Por isto, entende-se a relevância de agregar fontes não intermitentes no horizonte decenal, mas cabe refletir se não é possível termos uma distribuição mais harmônica na expansão dessas fontes, talvez inspirando-se em Aristóteles, em que seus ensinamentos indicam a busca pelo equilíbrio, que se encontra no ponto intermediário entre dois opostos: nem toda expansão deve ser em renováveis, assim como nem toda expansão deve ser em fontes não renováveis, esquecendo-se do potencial de fontes renováveis como as não intermitentes biomassa e hidráulica.
As fontes biomassas e hidráulica serão as que crescerão menos no período decenal (26% e 16%, respectivamente). Considerando que a fonte biomassa é uma geração não intermitente, descentralizada, contra sazonal à geração hídrica e renovável, dentre outros atributos, entende-se que sua contribuição pode ser muito superior aos 26% de expansão previstos para sua geração no horizonte decenal.
Constata-se que, apesar dos atributos e da solidez do setor de geração de energia centralizada a partir das biomassas, do biogás e do RSU, a visão disposta no PDE 2034 projeta uma expansão indicativa acumulada dessas fontes, no Cenário de Referência, de apenas 1.947 MW entre 2025 e 2034. Trata-se da menor expansão dentre as fontes renováveis, ficando atrás somente das PCHs e CGHs, que devem adicionar simplesmente 3.287 MW no período mencionado.
Estamos para reformar novamente o ambiente institucional do setor elétrico. É importante mais ousadia com relação às estimativas de aproveitamento de fontes renováveis estratégicas para o país, como a biomassa e as pequenas hídricas.
Em 2034, a fotografia tirada pelo PDE 2034 mostra uma geração de bioeletricidade muito tímida e extremamente abaixo de seu potencial. Espera-se que a reforma do setor elétrico – que se avizinha - possa contribuir para criar condições que mudem essa visão pouco animadora demonstrada no PDE 2034.