Opinião

Desafios para a energia nuclear

Por Redação

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A demanda por energia elétrica aumenta de forma contínua para atender as necessidades do mundo moderno e garantir qualidade de vida a uma sociedade cada vez mais exigente. Este processo impõe às autoridades governamentais de todos os países o desafio de formular políticas e executar planejamento energético para assegurar a oferta de energia elétrica, uma busca contínua pelo equilíbrio entre a oferta e demanda deste insumo fundamental.

Este desafio vem se tornando cada vez mais complexo e difícil em função das crescentes restrições ambientais impostas à construção de novas plantas de geração elétrica. Como não há condições econômicas e energéticas para atender a demanda de energia elétrica somente com renováveis, como eólica e solar por serem fontes interruptíveis, destaca-se a necessidade de buscar fontes que garantam, simultaneamente: segurança no suprimento da demanda; redução de emissão de gases de efeito estufa; e competitividade econômica. Entre as que atendem os três requisitos, a energia nuclear é uma alternativa que merece ser estudada.

Apesar do desenvolvimento e avanço das energias renováveis, impulsionadas pelas incertezas do preço e oferta do petróleo, a matriz elétrica mundial continua baseada em combustíveis fósseis. A térmica (carvão, gás e óleo) representa 68% da geração total no mundo, seguida pela hídrica com 15,8%, nuclear com 11,7% e outras fontes renováveis com 4,5%, dados relativos a 2012. Nas previsões da International Energy Agency (IEA), a geração elétrica vai crescer mais do que todas as outras formas de energia, com um aumento estimado de 67% até 2035. Para atender tal incremento, a geração térmica terá sua participação reduzida para 57%, a hidrelétrica deverá se manter estável em 16%, e as renováveis devem atingir 15,6% da geração total no período.

Do ponto de vista ambiental, destacam-se dois problemas relacionados à geração de energia elétrica. O primeiro está vinculado às emissões de CO2 pela geração térmica, pois o setor elétrico foi responsável por 28% das emissões totais no mundo em 2012. Não por acaso as maiores nações do mundo assinaram o Acordo de Paris em 2015 que, apesar da desistência dos Estados Unidos em aderir, foi reafirmado recentemente na reunião do G20 em Hamburgo. E reafirmado pela decisão do Estado da Califórnia em respeitar seus termos e pelas grandes multinacionais, como Exxon Mobil e Aple, para citar algumas, de manter seus projetos de adoção de fontes alternativas de energia elétrica. O segundo problema está relacionado à ampliação da geração de energia hidrelétrica por interferirem em ecossistemas que abrigam uma imensa diversidade de formas de vida estreitamente ligadas ao livre pulsar dos rios.

Para atender o aumento da demanda por energia elétrica sem comprometer ambientalmente o desenvolvimento econômico e social, a geração nuclear tende a ser tornar uma alternativa. Este processo já está em curso, pois entre 1971 e 2012, a participação da energia nuclear na geração mundial de energia elétrica passou de 2% a 11,7% apesar de o acidente de Fukushima, em março 2011, voltar a colocar as centrais nucleares sob forte desconfiança e provocar a interrupção de programa de usinas nucleares e o adiamento nos investimentos em escala mundial.

No mundo, existem atualmente cerca de 440 reatores nucleares em operação localizados em 30 países, com uma potência instalada total de cerca de 380 GW. A IEA constata que estão em construção cerca de 70 usinas nucleares, concentrando-se principalmente na China. O insumo da energia nuclear é o urânio que tem uma densidade energética muito superior aos recursos fósseis e as reservas disponíveis permitem que sua exploração ocorra por um horizonte temporal mais amplo do que o óleo e o gás.

Além disso, a geopolítica mundial das reservas de urânio é diferente e bem menos problemática do que o petróleo, constituindo-se em um fator estratégico em termos de segurança energética.  Outra vantagem:  uma usina nuclear apresenta o menor impacto ambiental em termos de emissões de CO2.  Levando-se em conta o ciclo de vida da energia nuclear, ela é, ao lado da eólica e hidrelétrica, a de menor emissão. Cabe destacar que as centrais nucleares geram energia elétrica sem interrupção, operando 24h por dia, 11 meses, por ano, tornando-a apta a dar segurança para a operação dos sistemas elétricos.

As incertezas sobre energia nuclear estão relacionadas à questão vital da segurança. Embora o reduzido número de acidentes nucleares possa ser interpretado como um indicador de segurança, os impactos sobre o meio ambiente e populações permanecem como um problema a ser enfrentado. Esse conjunto de questões está exigindo muito esforço, recursos e pesquisas para o desenvolvimento de tecnologias que garantam mais segurança dado que a energia nuclear terá, cada vez mais, um papel estratégico: garantir a oferta de energia elétrica para um mundo cada vez mais dependente deste insumo e que precisa reduzir dramaticamente o aquecimento global, como nos alerta o recente desprendimento de um iceberg de um trilhão de toneladas da plataforma de gelo na Antártica.

Sérgio Malta é presidente do Conselho de Energia da Firjan

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