Panorama e desafios no cenário global de H2, segundo a IEA

Opinião

Panorama e desafios no cenário global de H2, segundo a IEA

A coordenação entre os setores de produção, infraestrutura e uso final é crucial para o desenvolvimento do mercado. E medidas de apoio, como garantias de empréstimos e subsídios, contribuem para reduzir o risco de investimento e a diferença de custos

Por Mariana Mattos

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O relatório Global Hydrogen Review 20251 da Agência Internacional de Energia (IEA), publicado em outubro, analisa a demanda, produção e políticas relacionadas ao hidrogênio, com foco nos desafios enfrentados e recomendações para superá-los. Apesar do recente pessimismo em relação ao setor, marcado por atrasos, cancelamentos de projetos, revisões negativas de metas e dificuldades empresariais, a análise da IEA mostra que a indústria está avançando, embora mais lentamente do que as expectativas iniciais superestimadas sugeriam.

A demanda global de hidrogênio atingiu quase 100 milhões de toneladas (Mt) em 2024, um aumento de cerca de 2% em relação a 2023, com crescimento impulsionado por setores industriais tradicionais (principalmente refino de petróleo e produção de amônia). A produção de hidrogênio de baixo carbono cresceu 10% em 2024, basicamente oriunda de eletrólise, e deve atingir 1 Mt em 2025, um crescimento de mais de 60% desde 2021.

As perspectivas de curto prazo para o setor são positivas: com base apenas em projetos que estão operacionais, já alcançaram a decisão final de investimento ou estão em construção, a produção de hidrogênio de baixo carbono deverá quintuplicar em apenas seis anos (de 0,8 Mt em 2024 para 4,2 Mt em 2030).

Considerando o total de projetos já anunciados, a produção de hidrogênio de baixo carbono pode chegar a 37 Mt em 2030. Embora isso esteja muito aquém das ambições anunciadas no início da década de 2020, demonstra um crescimento impressionante para um setor nascente.

A China é atualmente a líder global em hidrogênio de baixo carbono, sendo que o país concentra cerca de 60% da capacidade mundial de fabricação de eletrolisadores e já possui mais da metade da capacidade instalada global. De 2022 a 2024, respondeu por dois terços dos projetos que chegaram à decisão final de investimento.

A China produz hidrogênio eletrolítico 40–45% mais barato do que a Europa e os Estados Unidos, graças à eletricidade mais barata, custos de investimento menores e custo de capital reduzido para energias renováveis. Além disso, a China é o maior mercado de hidrogênio do planeta, representando quase um terço da demanda global.

Essa liderança é reforçada pela forte cadeia de suprimentos, empresas experientes vindas do setor de renováveis e políticas governamentais que promovem rapidamente a adoção de eletrolisadores, num movimento semelhante ao observado no setor de energia fotovoltaica e de baterias.

O alto custo do hidrogênio de baixo carbono em comparação ao hidrogênio fóssil tradicional continua sendo um obstáculo para sua adoção tanto em setores tradicionais quanto em novas aplicações, como aço, transporte marítimo e aviação. As políticas públicas ainda são insuficientes e incertas, mas algumas ações específicas poderiam destravar rapidamente a demanda:

  • Priorizar os usos atuais de hidrogênio: Substituir o hidrogênio fóssil já utilizado na indústria por hidrogênio de baixo carbono é a forma mais imediata de escalar a demanda.
  • Criar mercados líderes via compras públicas: Governos podem estimular a demanda adquirindo produtos intensivos em hidrogênio de baixo carbono (como fertilizantes, aço e combustíveis para transporte).
  • Projetar políticas de forma integrada: Incluir contratos de compra garantida (offtake) como critério de elegibilidade em programas de apoio garante que apenas projetos sólidos e viáveis avancem, aumentando a taxa de sucesso.
  • Aproveitar regulações internacionais de transporte: Padrões globais coordenados, como o Net-Zero Framework da IMO (International Maritime Organization) para o transporte marítimo e potenciais regulamentos equivalentes da ICAO (International Civil Aviation Organization) para a aviação, podem impulsionar significativamente o uso de combustíveis provenientes de hidrogênio de baixo carbono.

O relatório da IEA destaca que as economias emergentes e em desenvolvimento possuem um enorme potencial para a produção de hidrogênio de baixo carbono a custos reduzidos, mas enfrentam desafios importantes, como infraestrutura limitada e acesso restrito a financiamento, além da dependência das exportações para um mercado global que está se desenvolvendo lentamente.

As economias avançadas deveriam ampliar parcerias com as economias emergentes e em desenvolvimento para incentivar novos casos de uso doméstico (como a produção de fertilizantes) e abrir oportunidades de exportação para produtos à base de hidrogênio.

Isso permitiria que essas economias ascendessem na cadeia de valor; aumentassem sua segurança energética e alimentar, reduzindo a dependência de importações; e impulsionassem o crescimento econômico.

Nesse sentido, programas como o H2Global2 e o Hydrogen Mechanism3 foram criados para estimular essas parcerias e apoiar o comércio internacional de hidrogênio de baixo carbono.

Como conclusão, o relatório aponta que a criação de mercados de liderança pode estimular a demanda por hidrogênio de baixo carbono, com políticas como incentivos fiscais e contratos de diferença.

A coordenação entre os setores de produção, infraestrutura e uso final é crucial para o desenvolvimento do mercado e medidas de apoio, como garantias de empréstimos e subsídios, contribuem para reduzir o risco de investimento e a diferença de custos.

 

1 https://www.iea.org/reports/global-hydrogen-review-2025

2 https://h2-global.org/

3 https://energy-platform.ec.europa.eu/hydrogen

 

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