Opinião

O Brasil no ranking do trilema de energia do WEC

Embora grande produtor de energia ambientalmente sustentável, o país não oferece energia acessível a seus habitantes. Com isso, ocupa uma despretensiosa 36ª posição, quando poderia figurar entre os primeiros.

Por Telmo Ghiorzi

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O World Energy Council (WEC), desde 2010, analisa e divulga o conceito de trilema da energia. Informações detalhadas estão neste link. O trilema consiste na contradição entre três dimensões: a segurança, ou seja, a disponibilidade e a confiabilidade das fontes de energia; a equidade, isto é, o fácil acesso e preços compatíveis com a economia do país; e a sustentabilidade ambiental, ou seja, a geração de energia com baixo impacto ao ambiente.

A contradição fica clara quando, num exercício de abstração, prioriza-se apenas uma das dimensões. Ao se priorizar a dimensão sustentabilidade ambiental, por exemplo, confiabilidade e preços da energia podem ficar prejudicados. Seria justo privar as empresas e as pessoas de acesso a fontes de energia com alta confiabilidade e preços módicos? Em outro extremo, seria justo oferecer energia firme e barata a todos, mas com efeitos deletérios ao ambiente?

O WEC elaborou e mantém atualizado o Energy Trilemma Index. Trata-se de lista com 126 países, indicando a pontuação e a posição de cada um deles em função de pontos obtidos nas três dimensões do trilema.

A classificação é liderada pela Dinamarca, com 83,2 pontos, destacando-se a dimensão equidade, com 95,8. Os EUA ocupam a décima posição, com 78,9 pontos totais, também com destaque à equidade, com 97,3 pontos. Os Emirados Árabes Unidos ocupam a 30ª posição. Com destaque, novamente, para a equidade, com 99,9 pontos.

O Brasil ocupa a 36ª posição, com 68,3 pontos. O destaque positivo do Brasil é a dimensão sustentabilidade, com 76,8 (mesma pontuação da Bélgica, que ocupa a 16ª posição). O destaque negativo é a equidade, com 62,8 pontos.

Não se pode alegar surpresa, pois o Brasil sofre de baixa equidade em quase todos os setores de seu contexto socioeconômico, a começar pelos sofríveis indicadores de distribuição de renda. Mas, também no contexto energético, nossos indicadores são baixos, em razão de falhas no acesso e de altos preços de energia elétrica e de combustíveis. 

Há muitos estudos e controvérsias sobre a baixa equidade energética no Brasil. Mas tributação regressiva e subsídios ineficientes aparecem com frequência entre as possíveis causas. A reforma tributária em curso e revisões de alguns subsídios apontam para melhorias neste indicador.

A cadeia produtiva do setor de energia, incluindo fontes renováveis e não-renováveis, tem papel relevante nas três dimensões.

É a cadeia produtiva que, por meio de seus bens e serviços, explora, descobre e viabiliza a transformação de fontes primárias em energia utilizável pela sociedade, agindo assim na dimensão segurança energética. É ela que, por meio do desenvolvimento de inovações, vai produzir energia com cada vez menor impacto ambiental, contribuindo assim para melhorar os indicadores da dimensão sustentabilidade.

Mas a terceira dimensão, justamente aquela em que o Brasil tem os piores indicadores, é onde a cadeia produtiva pode dar sua maior contribuição.

A cadeia produtiva de energia é uma grande empregadora, com muitos empregos de alta qualificação e renda. No setor de produção de petróleo, por exemplo, entre diretos e indiretos, são mais de 600 mil empregos. Sem contar os empregos induzidos por efeito renda, que adicionam outros 270 mil empregos, em razão de salários médios de R$12 mil por mês, contra R$2,8 mil por mês da média salarial nacional.

Salários mais altos, típicos em todo o setor industrial, contribuem para aumentar a equidade, precisamente porque mais renda implica maior capacidade de aquisição de energia. Empregos produzem efeito similar ao de energia a preços mais baixos.

Para maximizar estes efeitos positivos, o Brasil precisa ter como aspiração - e agir para obter resultados nesta direção -, tornar-se um país de alta relevância na produção de bens e serviços para produção de petróleo e de energias renováveis. 

Para além de produzir energia ambientalmente sustentável e com confiabilidade, precisa e pode ser uma plataforma global de bens e serviços para a transição energética no Brasil e no mundo. 

Temos uma matriz energética bastante renovável, mas podemos ocupar posições mais altas no ranking do trilema energético se nossa cadeia produtiva de energia subir mais degraus em sua presença em outros países além do Brasil.

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