Opinião

Os desafios da cadeia produtiva da energia eólica

Assim como na indústria de petróleo, é indesejável que a produção de energia eólica, também uma commodity energética, não seja acompanhada do objetivo de tornar o Brasil um dos polos mundiais de desenvolvimento, produção e exportação de equipamentos

Por Telmo Ghiorzi

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Em publicações recentes, a imprensa traz notícias pouco alvissareiras, embora não surpreendentes, sobre a cadeia produtiva da energia eólica no Brasil. As empresas desta cadeia produtiva desenvolvem tecnologias e fabricam os equipamentos fornecidos às empresas que vendem energia elétrica a partir de energia eólica. No Brasil, algumas empresas nacionais do setor estão encerrando ou reduzindo atividades no país e aumentando seus investimentos e capacidade fabril nos EUA.

A razão para este redirecionamento de esforços reside na baixa demanda de equipamentos para geração eólica no Brasil e nos incentivos do IRA, o Inflation Reduction Act, a bilionária iniciativa do governo dos EUA para estimular a indústria local.

A demanda no Brasil está reduzida, pois há, pelo menos por ora, excesso de capacidade de geração de energia elétrica no país. O IRA é uma política complexa que tem, entre outros mecanismos, instrumentos que incentivam o consumo de energias renováveis e a fabricação nos EUA dos equipamentos utilizados para geração de energia a partir destas fontes.

A má notícia não surpreende. O foco excessivo do Brasil na exploração de recursos naturais, entre eles as commodities agrícolas e associadas à produção de energia, é literalmente secular, pois data de 1500. Permanecemos pouco atentos à necessidade de criar setor industrial capaz de atender as demandas locais e internacionais com bens e serviços de alta complexidade tecnológica.

A similaridade com o setor de petróleo e sua cadeia produtiva é evidente. Quando a demanda local é reduzida, a cadeia produtiva enfrenta automática e imediatamente redução proporcional em sua atividade econômica.

Países já industrializados e em processo de rápida industrialização, como a China, vêm adotando estratégias cada vez mais arrojadas de desenvolvimento industrial. Entre outras características destas políticas, está o foco em exportações, para além da capacidade de atender apenas o mercado doméstico.

Com efeito, não há caminho alternativo. O Brasil, e quaisquer outros países que desejem trilhar a trajetória do desenvolvimento socioeconômico sustentável, têm de ser cada vez mais arrojados em sua formulação e implantação de instrumentos de política industrial. E tornar-se capaz de exportar seus bens e serviços industriais, indo além da extração e exploração de recursos naturais.

Se a cadeia produtiva brasileira de energia eólica fosse exportadora de seus bens e serviços, os efeitos da baixa demanda local e de iniciativas como o IRA teriam efeitos menos graves sobre sua própria estabilidade.

É no mínimo indesejável que, em pleno século XXI, tenhamos uma indústria de petróleo focada apenas na produção e na exportação da commodity. É igualmente indesejável que a mera produção de outra commodity energética, a energia eólica, não seja acompanhada do objetivo de tornar o Brasil um dos polos mundiais de desenvolvimento, produção e, sobretudo, exportação dos equipamentos utilizados na geração eólica.

É preciso transformar este potencial em realidade e tornar as commodities energéticas e outros recursos naturais em instrumento alavancador de desenvolvimento industrial, ao contrário do que até hoje temos feito. Continuamos focados na exploração dos recursos naturais locais. Temos bons engenheiros e técnicos, boas universidades, parque industrial razoavelmente adensado e capaz de inovar, entre outros instrumentos, para rápida e vigorosa industrialização.

O desafio tem um componente cultural, pois são séculos de foco quase exclusivo em commodities e demanda local. Contudo, não há “Plano B”. Ou direcionamos nossos esforços para uma industrialização focada em exportação de produtos e serviços, ou reafirmamos a opção por uma pobreza continuada.

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