Opinião

OCDE, Brasil e as renováveis na geração de energia elétrica

Nos países da OCDE, a participação das renováveis na geração centralizada de energia elétrica em junho não passou de 33%, enquanto no Brasil foi de 91%

Por Zilmar de Souza

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Em junho deste ano, a geração para o Sistema Interligado Nacional foi de 47,7 TWh, um crescimento de 2,2% em relação a junho de 2022, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA). A participação das renováveis na geração de energia elétrica em junho deste ano foi de 91%, com o pódio das renováveis liderado pelas hídricas (64% do total), seguidas pelas eólicas (17,7%) e biomassas (6,3%). A fonte solar centralizada só aparece na 4ª posição dentre as renováveis, com menos de 3% do total da geração para a rede em junho de 2023, sem considerar a Micro e Mini Geração Distribuída.

Trata-se de um índice singular de renovabilidade na geração de energia elétrica local e mundial. Para tal afirmação, vamos observar apenas o mês de junho deste ano, último mês com informação pública na base de dados da Agência Internacional de Energia (IEA).

Olhando os dados dos 38 países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsáveis por mais de 60% do PIB nominal mundial (FMI, 2018), a produção líquida total de energia elétrica foi de 864,1 TWh em junho de 2023, uma queda de 4,5% em comparação a junho de 2022. No primeiro semestre de 2023, a geração de energia total nos países da OCDE caiu 3,7% em comparação com o mesmo período do ano passado, por conta, sobretudo, da retração da geração com carvão (-17,3%).

Nos países da OCDE, a participação das renováveis na geração não passou de 33% em junho de 2023, com o pódio composto pelo gás natural (1º lugar com 31,7% do total), carvão mineral (2º lugar com 16,3%) e nuclear (3º lugar com 16%). A hídrica é a primeira renovável a aparecer no ranking, no 4º lugar e com 14% de participação, seguida pela fonte solar com 9% e a eólica com 7,5% de participação. A biomassa aparece apenas agregada em outras renováveis, categoria que representa 3,1% na geração total dos países da OCDE, em junho deste ano.

No Brasil, vale a pena chamar a atenção para a biomassa. No primeiro semestre de 2023, a geração total no país para a rede foi de 302,7 TWh, com a participação das biotérmicas sendo 3,4%. Já em junho e julho de 2023, com a safra sucroenergética na Região Centro-Sul em curso, a bioeletricidade para a rede chegou a 3 TWh e 3,5 TWh, respectivamente, representando 6,3% e 7,1% da geração total no país naqueles meses.

A geração da bioeletricidade para a rede é uma oferta não intermitente, dando mais segurança no suprimento, ajudando na continuidade da expansão das fontes variáveis renováveis coirmãs (eólica e fotovoltaica) e na manutenção dos reservatórios das hidrelétricas (pela forte complementaridade entre as fontes).

Os dados da OCDE e do Brasil indicam que países podem ter trajetórias de transição energética diferenciadas: não há um padrão único a seguir. Na transição energética brasileira, deve-se considerar o conceito de path dependence em que se busca explicar a importância de sequências temporais do desenvolvimento e considera, além do tempo, eventos e processos sociais (Bernardi, 2012).

Houve uma trajetória positiva que resultou no aproveitamento da biomassa para produção de combustíveis, no mínimo desde o Proálcool, gabaritando o país para traçar uma transição energética em que devemos aproveitar mais a bioenergia e seu potencial, não apenas do lado da matriz de transporte, mas também na matriz elétrica brasileira.

Quando se discute reestruturar o setor elétrico brasileiro, é importante desenharmos uma política estimulante para a bioeletricidade, estabelecendo no planejamento setorial soluções estruturadas para comercialização e conexão das biotérmicas às redes elétricas e uma visão estruturante e integrada da bioeletricidade com os demais produtos da bioenergia na matriz de energia do país (em especial, etanol, biogás, biometano e hidrogênio).

 

 

Zilmar Souza é doutor em engenharia de produção e pós-doutor em economia. Atua principalmente em temas relacionados ao setor elétrico, Agroenergia e Economia Ambiental. Escreve na Brasil Energia a cada três meses.

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