Tecnologias estão transformando o setor de RSU

Opinião

Tecnologias estão transformando o setor de RSU

Aplicativos com IOT, plataformas que localizam pontos de coleta, caminhões monitorados por satélite e blockchain já estão sendo usados em SP para tornar a coleta e disposição dos Resíduos Sólidos Urbanos mais eficientes e menos custosas

Por Bruna Moraes

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A taxa de reaproveitamento de RSU – Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil ainda é muito baixa, o que não é novidade. Dos mais de 80 milhões de toneladas geradas anualmente, menos de 4% são reciclados, enquanto a maior parte segue para aterros, muitas vezes sem rastreabilidade. A boa nova é que exemplos de tecnologias inovadoras no setor vem transformando este cenário e abrindo horizontes para soluções mais modernas, econômicas e sustentáveis.

A digitalização é a base dessa transformação: plataformas capazes de integrar todo o ciclo do resíduo – da geração ao destino final – permitem que gestores públicos e privados tenham acesso a dados em tempo real.

O Smart Campus da Unicamp é um bom exemplo deste conceito. O objetivo é aplicar a Internet das Coisas (IoT) para gerar dados que apoiam ações mais assertivas, aumentando a eficiência dos serviços em prol da comunidade universitária.

O sensoriamento em contêineres de resíduos para monitorar o nível de enchimento e sistemas de rastreamento via GPS para acompanhamento de rotas de coleta são projetos em desenvolvimento que visam a otimização logística e eficiência operacional.

Na cidade de São Paulo, as concessionárias também já aplicam a roteirização da coleta de resíduos com caminhões monitorados via satélite e online, permitindo rastrear rotas, evitar desvios e garantir pontualidade dos serviços.

Outro bom exemplo é a plataforma digital EcoMapa (https://shre.ink/EcoMapa-Cetesb) criada pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que permite ao cidadão consultar os pontos de coleta de resíduos sujeitos à logística reversa no estado, como pneus, baterias, eletrônicos e cápsulas de café.

Esta plataforma é complementar ao Painel Dinâmico de Logística Reversa, divulgado pela agência em 2024, sendo o primeiro painel interativo online do país que permite a visualização de pontos de coleta e gestão reversa de ativos no estado, com foco em transparência e monitoramento público.

Já o aplicativo Cataki, lançado em 2017, foi o pioneiro em integrar a logística reversa à economia solidária, dando visibilidade e fortalecendo o trabalho de catadores e cooperativas. Conhecido como o “tinder da reciclagem”, o aplicativo conecta, por geolocalização, catadores e cooperativas de recicláveis a geradores de resíduos, permitindo agendamento de coleta diretamente pelo app.

A partir de então, novas soluções digitais para RSU foram evoluindo, visando atuar em maior escala com foco em empresas, prefeituras e compliance regulatório.

O software GreenPlat, desenvolvido para oferecer rastreabilidade de cadeias produtivas e gestão em tempo real, integrou sistemas públicos e privados de gerenciamento de resíduos sólidos via tecnologia blockchain. Segundo a empresa, até hoje mais de 1 milhão de toneladas de resíduos foram gerenciadas, sendo reintegradas à economia.    

A automação dos centros de triagem também vem avançando por meio do uso de técnicas de Inteligência Artificial (IA), como machine learning e visão computacional. Tais técnicas permitem identificar e separar diferentes tipos de materiais em esteiras, aumentando a eficiência e reduzindo contaminações.

Apesar de ser um campo ainda em desenvolvimento no Brasil, iniciativas promissoras já mostraram potenciais benefícios para a gestão de RSU, como é o caso do Robô de Triagem de Lixo do Fab Lab Livre SP, projetado com uma garra mecânica capaz de identificar e manejar materiais como plásticos, papelão, papel, metais e vidro. O Fab Lab Livre SP é uma rede de laboratórios públicos inovadores de acesso gratuito que aproxima as pessoas das tecnologias de fabricação digital, estimulando a inclusão social, o aprendizado prático e o desenvolvimento de ideias criativas por meio do “faça você mesmo”.

De forma mais ampla, o programa Recicla Sampa pode ser considerado um exemplo de Smart City aplicado à gestão de RSU, uma vez que integra tecnologias digitais, automação e inclusão social.

Resultado da parceria das concessionárias de coleta de resíduos domiciliares e de saúde de São Paulo com a Prefeitura da cidade, a ação utiliza uma plataforma digital que integra centrais mecanizadas de triagem com uma rede de cooperativas de catadores para processar e reciclar RSU. A gestão combina digitalização, tecnologia, operação logística e economia solidária para promover a reutilização de resíduos e reduzir o envio para aterros.

Apesar de serem iniciativas pontuais diante do expressivo volume de RSU no Brasil e dos desafios para sua ampla adoção, esses projetos demonstram que a aplicação da Indústria 4.0 na gestão de resíduos é imprescindível para gerar ganhos significativos em eficiência, sustentabilidade, inovação e educação.

É urgente que o país invista em tecnologia, P&D, educação e adote políticas mais ousadas para integrar digitalização, IoT, IA, automação e valorização energética de forma a transformar um passivo ambiental em um ativo econômico e estratégico.

Esta é uma das saídas para fortalecer a economia circular e impulsionar a construção de cidades mais modernas, sustentáveis e inteligentes.

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