Opinião
Etanol - uma solução brasileira sim, e das boas
Sem solução universal para a crise climática, é preciso buscar alternativas eficazes e compatíveis com a realidade de cada lugar
Mudanças climáticas são sem dúvida um problema global. Mas isso não quer dizer que a solução deva ser universal. Tentar encontrar uma solução única que funcione igualmente bem em qualquer lugar do mundo, dadas as enormes diferenças socioeconômicas de cada país, me parece no mínimo pouco eficiente. Olhar para alternativas eficazes e, principalmente, compatíveis com a realidade de cada lugar pode ser uma boa ideia. Nosso etanol é um ótimo exemplo: uma solução brasileira que funciona!
Para começo de conversa precisamos comparar alternativas de forma correta e completa. É fácil argumentar que o carro elétrico (EV) emite menos gás carbônico do que os motores a combustão (CV) olhando apenas o combustível gasto para mover os veículos, uma vez que no caso do EV simplesmente não há combustão. No entanto, a energia produzida para alimentar a bateria do carro pode emitir CO2. O mesmo vale para a produção da gasolina ou do etanol e para todo o processo de manufatura de CVs e Evs, incluindo as baterias. Uma comparação justa, portanto, deve ser feita considerando toda a cadeia:well to wheel, ou do poço à roda. E aí a nossa solução aparece no topo do ranking.
Considerando as emissões de CO2well-to-wheel, um CV movido 100% a etanol hidratado, que tem na sua composição cerca de 95% de etanol e o restante de água, emite aproximadamente 90 gramas de CO2 por quilômetro rodado (gCO2/km). Um carro 100% elétrico no Brasil, cuja matriz de geração de energia elétrica é predominantemente renovável, emite algo como 130gCO2/km. Esse mesmo EV na China, onde predomina geração elétrica a carvão e a gás natural, apesar dos enormes esforços deste país para aumentar a parcela de renováveis, emite cerca de 320gCO2/km. Mesmo na Noruega, país cuja matriz é praticamente toda baseada em geração hidroelétrica, um EV emite perto de 100gCO2/km.
Graças à adição de etanol, a gasolina brasileira pode ser considerada a mais limpa do mundo. A adição obrigatória de etanol à gasolina no Brasil, fixada em 27% (E27) desde 2015, faz com que CVs a gasolina emitam, em média, quase 300 gCO2/km. Nos Estados Unidos, país que também adota mistura, esta taxa chega perto dos 400 gCO2/km. Nesse caso, não só o percentual de mistura é menor, 10% (E10), como o etanol de milho tem desvantagens se comparado ao etanol brasileiro de cana-de-açúcar, principalmente em razão do gasto energético envolvido na produção. O etanol brasileiro é 90% menos poluente que a gasolina e 30% menos poluente que seu similar americano. E o chamado etanol celulósico, ou etanol de segunda geração, aumenta em cerca de 50% esta vantagem. O Brasil está na dianteira deste mercado, tendo a única planta de etanol de segunda geração em escala comercial do planeta.
Trazendo a discussão de alternativas adaptadas à realidade econômica brasileira, o etanol ganha ainda mais relevância. O uso de EVs em maior escala no Brasil em grandes cidades, e principalmente a interiorização do seu uso, requereria investimentos relevantes para reforçar e rede elétrica. No caso do etanol, toda a infraestrutura de transporte e distribuição já existe, com empresas que investem para distribuir o produto nos mais de 40 mil postos de combustíveis existentes de norte a sul do país, sendo que a quase totalidade da produção de veículos no país é flex. Ainda que EVs possam sim representar uma solução para o Brasil mais a longo prazo, não faz o menor sentido abrir mão de uma solução madura e testada como etanol. Temos um desafio gigantesco de retomar crescimento econômico no Brasil, num momento onde os recursos não estão exatamente sobrando.
O Brasil tem inúmeros problemas. E muitas das vezes em que tentamos criar soluções caseiras ou “jabuticabas” que só existem no Brasil, dificultamos tremendamente as coisas. O etanol brasileiro é sim uma jabuticaba, mas das boas, daquelas que devemos nos orgulhar. Tudo isso sem entrar no mérito da economia circular da indústria do etanol, como: a cogeração de energia feita a partir do bagaço de cana, cuja sazonalidade dada pela safra serve de complemento perfeito para hidrologia na geração hidrelétrica; a possibilidade de transformar o bagaço em pelletse exportar para substituição de carvão; a geração elétrica a partir do biogás oriundo do processo; e por aí vai. Um verdadeiro ecossistema de energia sustentável disponível no nosso quintal. Temas para os próximos artigos...
Paula Kovarsky é Head of US Office e diretora de Relações com Investidores da Cosan desde 2015, com mais de 20 anos de experiência no setor de Óleo & Gas[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_raw_html]JTNDZGl2JTIwcm9sZSUzRCUyMm1haW4lMjIlMjBpZCUzRCUyMm5ld3NsZXR0ZXItb3Bpbmlhby02ZWY3ZjBkYWRiMWJmYzA0YTA5MyUyMiUzRSUzQyUyRmRpdiUzRSUwQSUzQ3NjcmlwdCUyMHR5cGUlM0QlMjJ0ZXh0JTJGamF2YXNjcmlwdCUyMiUyMHNyYyUzRCUyMmh0dHBzJTNBJTJGJTJGZDMzNWx1dXB1Z3N5Mi5jbG91ZGZyb250Lm5ldCUyRmpzJTJGcmRzdGF0aW9uLWZvcm1zJTJGc3RhYmxlJTJGcmRzdGF0aW9uLWZvcm1zLm1pbi5qcyUyMiUzRSUzQyUyRnNjcmlwdCUzRSUwQSUzQ3NjcmlwdCUyMHR5cGUlM0QlMjJ0ZXh0JTJGamF2YXNjcmlwdCUyMiUzRSUyMG5ldyUyMFJEU3RhdGlvbkZvcm1zJTI4JTI3bmV3c2xldHRlci1vcGluaWFvLTZlZjdmMGRhZGIxYmZjMDRhMDkzJTI3JTJDJTIwJTI3VUEtMjYxNDk5MTItOCUyNyUyOS5jcmVhdGVGb3JtJTI4JTI5JTNCJTNDJTJGc2NyaXB0JTNF[/vc_raw_html][/vc_column][/vc_row]