COP30 - Não basta dar like para fazer a sua parte

Opinião

COP30 - Não basta dar like para fazer a sua parte

Especialistas, saiam da bolha e atraiam aliados. Comentaristas, simplificar não é banalizar e falar fácil é diferente de falar raso. Ajudem as pessoas a entender que essa responsabilidade é de todos. O tema é sério demais para deixar as pessoas achando que basta dar like para fazer a sua parte

Por Paula Kovarsky

Compartilhe Facebook Instagram Twitter Linkedin Whatsapp

Apesar de ser engenheira, sempre gostei de escrever. Desde os tempos de analista de research eu me preocupava em explicar minhas convicções de forma clara e bem embasada. Meus calls se diferenciavam pelo conhecimento real da indústria, mas precisavam chegar ao público da Faria Lima, de Wall Street e do Shopping Leblon de forma simples, objetiva e, por que não, com alguma graça. Numa coluna como essa tenho mais liberdade do que naquela época, quando às vezes deixava o compliance doido. Mas o desafio segue o mesmo: ser original, divertida e minimamente relevante.

O que dizer de novo sobre descarbonização às vésperas da COP30? Resolvi falar menos de técnica e mais de comportamento. Lá vai a engenheira que gosta de escrever, ainda se metendo em psicologia.

Todo mundo hoje tem uma opinião sobre mudanças climáticas. Algumas são excelentes, outras… nem tanto.

Grande parte das discussões se fixa quase obsessivamente nos problemas e nas frustrações. E, justiça seja feita, quem está nesse tema desde a primeira COP em 1995, quando clima era coisa de acadêmico e ambientalista, acumulou motivos mais do que justos para se frustrar.

De lá pra cá aconteceu muita coisa. Protocolo de Quioto em 1997, com metas mais específicas de redução de emissões. Acordo de Paris, depois de quase 20 anos, ampliando a participação de países em desenvolvimento, criando as NDCs, definindo o limite de 2ºC/1,5ºC e introduzindo o Artigo 6 para um mercado global de carbono. E finalmente a COP30, onde finalmente se fala menos de promessa e mais de implementação, com chance real de regulamentar o Artigo 6.

Imaginem quantas horas foram gastas nessas negociações: só as COPs da última década reuniram 45 a 50 mil pessoas por duas semanas, somando quase 170 milhões de horas de conversas. Se somarmos estudos, relatórios, papers, consultorias… perde-se a conta.

Colocamos tudo isso num grande caldeirão: cansaço generalizado, complexidade técnica altíssima, milhares de atores querendo ser ouvidos, consultorias vendendo metodologias, politicos, empresas e mercado financeiro oscilando entre euforia e negação. E as redes sociais, que deram palco infinito para opiniões, sem muito filtro técnico.

O resultado? Mais uma polarização improdutiva.

De um lado, quem entende profundamente do assunto, mas continua falando entre si, num código quase indecifrável para quem está de fora. Isso afasta o público comum, que passa a sentir que o tema é complexo demais, distante — e, pior, achando que não é problema seu.

Do outro, uma multidão de comentaristas fala de clima como de futebol em mesa de bar. Textos repetitivos, pouco profundos, cheios de culpados e vítimas. Em comum a falta total de engajamento verdadeiro.

Só que o tema é global, exige responsabilidade de todos e principalmente ação. Há mais consciência, mais gente falando, escrevendo, postando. Arriscaria dizer até que existe um certo consenso sobre a urgência. Mas precisamos de mais. Fica aqui então um duplo pedido:

Aos especialistas: saiam da bolha. Reclamem menos. Simplifiquem o discurso. Falem para fora. Construam pontes. Atraiam aliados. Ajudem as pessoas a entender que essa responsabilidade é de todos em geral mas também de cada um de nós em particular.

Aos comentaristas genéricos: simplificar não é banalizar. Falar fácil é diferente de falar raso. O tema é sério demais para virar slogan vazio e deixar as pessoas achando que basta dar like para fazer a sua parte.

Na última Climate Week em Nova York, ouvi menos lamúria e mais foco em como financiar e destravar capital para descarbonização. Talvez este seja um sinal importante: menos reclamação, mais ação — e mais gente entendendo de verdade o que está acontecendo e onde vamos parar se não agirmos rápido.

Que nas próximas semanas a gente critique menos, traduza melhor. E faça mais!

 

Outros Artigos