Opinião

Duas mudanças sinérgicas no setor de petróleo

Aumento da ênfase da Petrobras na direção da transição energética e recriação do MDIC têm potencial para produzir efeitos positivos de alta relevância para o país

Por Telmo Ghiorzi

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O Brasil passa por mudanças relevantes na composição do Poder Executivo e do Poder Legislativo. Os efeitos destas mudanças na política e na economia do país serão mais bem compreendidos nos próximos meses e anos. Duas destas mudanças e seus possíveis efeitos são de particular importância para o setor de petróleo e seu sistema produtivo. Trata-se do aumento da ênfase da Petrobras na direção da transição energética e da recriação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o MDIC.

Embora ocorram em organismos estatais distintos, essas mudanças têm potencial para produzir efeitos sinérgicos e positivos de alta relevância para o país. Contudo, esses efeitos não serão automáticos e requerem esforço coordenado para materialização e maximização dos benefícios.

Ao aumentar a ênfase na transição energética, a maior empresa de energia do país acabará por induzir e direcionar ainda mais investimentos e esforços nesta direção. O Brasil já tem uma das mais limpas e renováveis matrizes energéticas do mundo. Avançar com ainda maior celeridade nesta direção é uma decisão imperativa e óbvia.

O conceito de transição energética é amplo. Mesmo que nos limitemos ao sistema produtivo do setor de petróleo, as possibilidades são muitas. As empresas deste sistema têm os recursos humanos e materiais necessários para conceber, desenhar, fabricar, montar, operar e manter diversos equipamentos necessários para que a transição energética ocorra. Elas têm as competências para criar os equipamentos a serem usados na produção de hidrogênio e amônia verde ou azul; para instalar e operar as turbinas eólicas offshore; para remover CO2 da atmosfera e injetá-lo nas formações rochosas de onde o petróleo foi extraído; para operar unidades flutuantes de perfuração de poços e de produção de petróleo que emitam menos gases do efeito estufa.

Embora associadas, a dinâmica econômica de empresas como a Petrobras ou outras empresas de energia é distinta da dinâmica das empresas do sistema produtivo do setor de energia. Aqui aparece um papel fundamental do MDIC, pois é ele que detém, por sua vocação e foco em desenvolver a indústria, os instrumentos necessários para interagir com as empresas e assim induzir e contribuir para um sistema produtivo robusto e capaz de habilitar a transição energética. A Petrobras ou o Ministério de Minas e Energia, o MME, por suas vocações, atribuições e foco na produção e comercialização de energia, embora sejam fundamentais para o processo, não detêm todos os instrumentos necessários para fortalecer as empresas do sistema produtivo do setor de energia.

Para além de habilitar a transição energética, as empresas do sistema produtivo brasileiro do setor de energia devem ser induzidas e estimuladas a tornarem-se referências mundiais no desenvolvimento dos bens e serviços necessários à transição energética. Ou seja, para além de produzir energias renováveis, injetar CO2 em reservatórios depletados e operar equipamentos que emitam menos poluentes, o Brasil pode, deve e tem os recursos para tornar-se referência como fornecedor dos bens e serviços que outros países vão precisar para que eles também avancem e realizem sua transição energética.

O MME e a Petrobras são, assim, as grandes forças motrizes da produção e comercialização de energia renovável e outras iniciativas necessárias à transição energética do Brasil. Mas é o MDIC que tem os elementos motrizes de tornar o Brasil um grande polo de inovações e de exportações dos bens e serviços para habilitar o processo em todo o planeta, inserindo e estimulando o progresso das empresas brasileiras nas ainda nascentes Cadeias Globais de Valor de setor econômico que a transição energética está criando.

Compreender os papeis do MME, da Petrobras e do MDIC neste contexto é o passo inicial para que esta ambição seja planejada, coordenada e transformada em realidade.

 

Telmo Ghiorzi é Secretário-Executivo da ABESPetro, doutor em políticas públicas e mestre em engenharia.

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