Deeptechs no Setor de Óleo e Gás e Transição Energética

Opinião

Deeptechs no Setor de Óleo e Gás e Transição Energética

O empreendedorismo de base tecnológica orientado para O&G e transição energética enfrenta desafios, além da complexidade técnica das inovações. Barreiras existem como a formação empreendedora, captação de recursos, dinâmica de mercado e a imperativa necessidade de internacionalização

Por Marcelo Castro

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Empreendimentos deeptechs no setor de Óleo e Gás e Transição Energética ainda são incipientes. Entre as principais dificuldades, por incrível que pareça, não está a própria pesquisa em si, mas sim lacunas na formação de gestão e liderança entre empreendedores de perfil técnico, até a complexa dinâmica de um mercado altamente concentrado.

A superação dos gargalos de financiamento, a rigidez das regras contratuais e jurídicas e a imperativa necessidade de internacionalização constituem, em conjunto, o oceano de desafios que as deeptechs precisam navegar para se estabelecerem e prosperarem no cenário global.

Formação e Gestão Empreendedora

Uma dificuldade central reside na lacuna de gestão e liderança entre os empreendedores que possuem forte formação técnica ou científica. Muitos cientistas e técnicos, apesar do domínio tecnológico, enfrentam obstáculos na aquisição de conhecimentos aprofundados em gestão, governança e liderança, competências cruciais para o sucesso empresarial.

A simples tentativa de transformar técnicos em gestores eficazes nem sempre é bem-sucedida, o que pode comprometer a empresa. No caso nacional, pela cultura do emprego estável, até pelas infinitas crises econômicas e sociais, a educação empreendedora ainda é pouco difundida, mas esta deve ser vista como uma jornada de autoconhecimento que deve estimular o potencial empreendedor.

Essa formação precisa ir além da teoria, incorporando exercícios práticos que permitam aos alunos vivenciar a tomada de risco, a execução prática de ideias e o enfrentamento de desafios reais, desenvolvendo resiliência e capacidade prática.

O perfil do empreendedor de sucesso é um tomador de risco, com uma obsessão pelo negócio, autopropelido (hands-on 24/7) e com uma visão firme que mantém a convicção, mesmo diante de opiniões contrárias.

Para mitigar riscos, equipes de sucesso frequentemente apresentam perfis complementares, como, por exemplo, um líder técnico, um especialista em vendas/negócios e um desenvolvedor de tecnologia.

É vital que a metodologia de apoio ao empreendedorismo priorize a praticidade e tenha uma comunicação clara, agradável e atrativa para facilitar sua adoção e replicabilidade fora do ambiente acadêmico.

Financiamento e Sobrevivência

A captação de recursos financeiros de suporte inicial é um gargalo significativo, apesar de alguns programas como o Pipe-Fapesp. O financiamento no Brasil é predominantemente público, o que sinaliza uma clara necessidade de ampliar a atuação do capital privado, envolvendo fundos de investimento e empresas.

O cenário de captação exige que os empreendedores estejam mais preparados para dialogar com investidores, uma vez que os fundos de venture capital (VCs) impõem critérios de valuation e exigências mais rígidas.

A formação dos empreendedores deve incluir o entendimento desses critérios de due diligence e o preparo estratégico para buscar recursos, garantir a escalabilidade e sustentabilidade do negócio. Ainda, a baixa taxa de escalabilidade é uma preocupação que exige a criação de metodologias específicas para aumentar a taxa de sucesso e permanência no mercado.

Barreiras de Mercado e Contratuais

O setor de O&G no Brasil é caracterizado por alta complexidade técnica e barreiras elevadas à entrada, com uma forte concentração de grandes players. A dominância de grandes corporações, como a Petrobras, gera ciclos de investimento e burocracias decorrentes do controle estatal e de políticas internas, dificultando a expansão de empresas de base tecnológica.

A complexidade das regras de contratação e garantias exigidas pelas grandes operadoras representa um obstáculo notável para fornecedores inovadores.

Uma das maiores ameaças à sobrevivência empresarial são os hiatos financeiros entre contratos, que podem se estender por meses e exigir montantes substanciais (centenas de milhares a milhões de reais) para a continuidade operacional.

O Imperativo da Internacionalização

Considerando que o mercado brasileiro de O&G representa apenas uma fração da produção mundial, a internacionalização é crucial para o crescimento. As soluções desenvolvidas devem, portanto, ter apelo global e competitividade internacional. Contudo, a expansão global é dificultada por diversas barreiras.

Um desafio cultural significativo é o “selo” brasileiro, frequentemente percebido como de menor valor em tecnologia. Isso leva muitas startups a considerarem a migração parcial de sua imagem e registro (CNPJ) para o exterior, buscando favorecer a captação de investimentos e a aceitação internacional.

Os obstáculos práticos incluem barreiras regulatórias, a dificuldade de acesso a fundos para financiar a expansão e o alto custo e ciclo de vendas prolongado nos mercados externos. A internacionalização não é uma opção, mas uma necessidade para a escalabilidade e sustentabilidade das deeptechs.

É necessário desenvolver ferramentas práticas para abordar a burocracia, tributação, estrutura legal de filiais e as peculiaridades de mercados específicos.

Conclusão

Em resumo, o empreendedorismo deeptech no setor de energia requer um suporte que una a formação não apenas técnica, mas de competências de gestão, o acesso a capital privado estratégico e a superação das barreiras regulatórias e contratuais de um mercado concentrado. Ações concretas são necessárias para remover a dificuldade comercial e desmistificar a percepção de valor da tecnologia nacional no cenário global.

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