
Opinião
Subsea to Shore: o futuro do petróleo cada vez mais próximo
Desde muito tempo, e dados os acidentes e o risco do trabalho embarcado, se discute a ideia de operar toda a infraestrutura de produção a partir do leito marinho, direcionando os fluidos para a costa. Os sistemas subsea to shore são uma nova fronteira tanto de pesquisa quanto de tecnologias e negócios

Recentemente, informações divulgadas sobre o projeto Sirius da Petrobras na Colômbia apresentaram a ideia de interligar ativos com linhas de mais de 130km, utilizando tieback em sistema subsea to shore, evitando a instalação de plataformas na região. Nos sistemas desse tipo, novos ativos são interligados a infraestrutura já existente no caso dos tiebacks ou mesmo diretamente a infraestruturas na costa, no caso dos sistemas subsea to shore.
Desde muito tempo, e dados os vários acidentes e o perigo relacionado com o trabalho embarcado – com recorde de acidentes em 2024, segundo a ANP - muito se discute a ideia de não se ter mais plataformas e toda a infraestrutura necessária para a produção de petróleo ficar no leito marinho, direcionando os fluidos para a costa.
Isso reduz enormemente o custo operacional e até mesmo de infraestrutura, visto que as restrições de espaço de uma plataforma não mais existiriam, bem como não haveria a necessidade de atuação constante humana in loco. Com isso, diversos projetos têm sido pensados dessa forma, com especial atenção para projetos que excedem, facilmente, 100 km no Mar do Norte, Golfo do México e a costa africana.
Apesar dos projetos em andamento, muito ainda há que se discutir sobre o tema, principalmente relacionado com o processo de marinização dos equipamentos ou mesmo problemas de garantia de escoamento (termo cunhado dentro da Petrobras e hoje usado no mundo todo como Flow Assurance).
Em um texto anterior, discutimos o desenvolvimento do Hisep para separação de fluidos no cenário do pré-sal, reinjetando os gases no reservatório e escoando apenas líquidos para a superfície, sendo que o primeiro equipamento está previsto para entrar em operação em alguns anos. A separação de fluidos é um dos temas de maior impacto nas tubulações cada vez mais longas.
Voltando ao tema de Garantia de Escoamento, as linhas longas aumentam o tempo de troca térmica da mistura de fluidos produzida com o leito marinho a baixíssimas temperaturas. Tal situação pode acarretar deposição de parafina, formação de hidratos, emulsões estáveis, entre outros problemas, aumentando a necessidade de passagem de pigs para a limpeza das tubulações ou mesmo tornando modelos de escoamento multifásicos utilizados hoje menos eficientes, como no caso de fluidos não-newtonianos.
Ainda, uma pergunta importante é: até que ponto a utilização de isolamento térmico é interessante, visto o elevado custo associado? Ou é melhor produzir em condição de cold-flow? Sistemas de tratamento de problemas de garantia de escoamento no leito marinho são necessários? Voltaremos ao tema de Garantia de Escoamento em detalhes em um próximo texto.
Ainda, sistemas de boosting e manutenção de pressão se farão cada vez mais necessários, bem como maior sensoriamento de toda a produção, garantindo a segurança das operações, e um maior número de ROVs e outros robôs para manutenção dos equipamentos e atuação remota.
Boa parte disso já é realidade em maior ou menor grau, dependendo do cenário observado. Entretanto, voltando ao universo da pesquisa, boa parte dos problemas ainda não têm respostas definitivas e continuam demandando desenvolvimentos constantes, como observado com o projeto de desenvolvimento de um novo lançador de pigs submarinos para águas profundas, um dos ganhadores do prêmio ANP de 2024.
Ainda, há necessidade cada vez maior de sistemas que possam simular e emular o ambiente offshore de produção de óleo e gás, com digital twins cada vez mais realistas e com base em dados consistentes de sensoriamento, muitas vezes não disponíveis no cenário atual.
Outro ponto, é a necessidade de sistemas de medição multifásica que funcionem e sejam confiáveis em diferentes cenários ao longo da produção dos campos de petróleo.
Todos os itens descritos acima já são temas de pesquisa nos diversos centros de pesquisa, universidades e empresas ao redor do mundo, com diferentes soluções sendo propostos e em busca de validação para aplicação em campo.
Mesmo assim ainda há um longo caminho a ser trilhado em busca de operações cada vez mais seguras, eficientes, com menor risco tanto para a produção, quanto para o meio ambiente e os trabalhadores da indústria. Buscamos o momento em que, sim, poderemos pensar em toda a estrutura de uma plataforma de petróleo no fundo do mar, como uma usina de processamento em que apenas os fluidos de interesse seriam escoados, resultando em maior eficiência e menor pegada de carbono.
Assim, da mesma forma que o descomissionamento, tratado no último texto, os sistemas subsea to shore também representam uma nova fronteira a ser explorada tanto do ponto de vista de pesquisas quanto de desenvolvimento de produtos e negócios.