Opinião

Os caminhos da descarbonização pelo mundo

O mundo de 2050 ainda terá cerca da metade de sua energia no fóssil. Quanto ao CO2, além do CCUS, existe a necessidade de reduzir, reciclar, remover e reutilizar

Por Fernando Luiz Zancan

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Cada país ou continente tem suas mazelas. A Europa impulsionou a revolução industrial com o uso do carvão, base de desenvolvimentos tecnológicos importantes no século XX, como a carboquímica. Carvão e aço foram a base da recuperação do continente após a Segunda Guerra Mundial e na formação da Comunidade Comum Europeia. Depois de minerado seu carvão competitivo e boa parte do gás do Mar do Norte, a Europa ainda importa 70% dos combustíveis fósseis que utiliza.

Hoje, a manutenção da energia europeia está ancorada na matriz nuclear francesa e no gás da Noruega. Existe uma aposta no vento e no sol para a segurança energética, mas ainda permanece uma grande preocupação com a Guerra da Ucrânia e a consequente interrupção do fornecimento de gás para o continente europeu.

Para reduzir a dependência dos fósseis, houve uma aceleração na busca pela eletrificação renovável. Essas mudanças, porém, têm custado pesados subsídios, que estão afetando a economia desses países e levando ao aumento de custo de vida, uma das maiores causas de turbulência política nas últimas eleições para o parlamento da União Europeia.

Num cenário oposto, os Estados Unidos, que em 2009 fizeram a revolução do xisto, passaram de importador para exportador de gás, causando algum alívio na Europa, pressionada pela escassez do gás russo.

Os americanos têm enormes reservas de fósseis, sendo autossuficientes em energia barata e competitiva, fator que está alavancando sua economia via industrialização. Isso, porém, não impede que os Estados Unidos também busquem diversificar as fontes de energia elétrica. Entretanto, tem esforços direcionados para programas de manejo de carbono.

O investimento nessas tecnologias, como a Captura e Armazenamento de Carbono (CCUS ) e Captura de Carbono do Ar (DAC), é de dezenas de bilhões de dólares, com dezenas de projetos em fase de licenciamento ambiental até 2025. Esse desenvolvimento tecnológico pode impulsionar cada vez mais a economia americana, uma vez que, no mundo real, existem várias projeções sobre a permanência dos fósseis na matriz mundial após 2050.

A China, por sua vez, sem reservas de petróleo e gás, conta e continuará contando com o carvão como segurança energética. Ainda assim, pretende chegar com as emissões de gases de efeito estufa neutras em 2060. A estratégia para seguir com o carvão e, ao mesmo tempo, zerar as emissões é apostar na captura de carbono.

Os chineses querem aumentar a eficiência energética, visando abordar a intensidade de carbono na economia e reduzindo as emissões de CO2 no uso e na fonte, bem como capturando o volume de emissões associado. A China tem mais de 200 projetos em diversas fases de desenvolvimento tecnológico para manejar o carbono.

A Índia, outro país em desenvolvimento com demanda crescente em energia elétrica, visa a universalização do acesso para a sua sociedade. Não tem reservas de gás e petróleo e continuará usando carvão na carboquímica, siderurgia, cimento e energia elétrica.

Assim como cada país tem suas mazelas, cada país fará seu próprio caminho na busca pela descarbonização. Esses esforços, entretanto, devem sempre levar em conta a segurança energética de todos e evitar o aumento do custo para a sociedade.

Fica claro nas discussões a necessidade de descarbonizar o mundo via relações comerciais, onde a taxação de carbono será usada como instrumento. É necessária uma abordagem holística para a descarbonização, onde o desenvolvimento e implantação de CCUS são vitais.

Devem-se citar outros benefícios associados à CCUS, como ajudar a garantir a segurança energética e proporcionar uma transição energética suavizada olhando as pessoas, juntamente com várias vantagens de desenvolvimento regional, como as associadas à retenção e criação de emprego e renda.

O mundo de 2050 ainda terá cerca da metade de sua energia no fóssil e para isso precisamos estruturar novos modelos de negócio para a área energética. Quanto ao CO2, existe a necessidade de reduzir, reciclar, remover e reutilizar.

Portanto, é importante não se concentrar apenas em uma tecnologia, mas considerar todo o sistema e ter uma visão mais ampla com uma solução mais integrada e abordagem de todas as tecnologias associadas.

A CCUS é certamente uma opção tecnológica estratégica e indispensável para uma entrega significativa da descarbonização, mas a descarbonização tem de ser considerada tanto do lado da oferta como do lado da demanda.

É necessária ainda uma abordagem conjunta em termos de oferta, procura e correspondência fonte/sumidouro.

No contexto da consecução da neutralidade carbônica é necessário que existam caminhos claros para a redução das emissões, incluindo a tecnologia de emissões negativas e a correspondência do aprovisionamento de energia renovável equilibrada com uma compreensão das características da fonte de emissão.

A descarbonização, segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU – IPCC, passa pelo desenvolvimento da indústria de CCUS e requer colaboração internacional, condição fundamental para enfrentar as mudanças climáticas.

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