Opinião

O mundo real – avanços tecnológicos na redução das emissões

Todos os combustíveis e tecnologias são necessários para alcançar a descarbonização profunda; estabelecer um ambiente de campo de igualdade, livre do favoritismo energético, é essencial para alcançar nossas metas energéticas e ambientais

Por Fernando Luiz Zancan

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A tecnologia mudou drasticamente nas últimas duas décadas o parque global de usinas a carvão. Em 2000, 75% das usinas de carvão mineral usavam tecnologia subcrítica (baixa temperatura e pressão nas caldeiras). Em 2019, segundo a Agencia Internacional de Energia - IEA, esse número caiu para 40% com a China liderando a a transformação ao eliminar plantas ineficientes em favor de tecnologias mais avançadas - supercríticas e ultrasupercríticas.

O relatório sobre tecnologias IEA/ETP-2020 reconhece os benefícios substanciais que a implantação das tecnologia High Efficiency and Low Emission - HELE tiveram para a redução de emissões no mundo. Na última década e meia, as melhorias de eficiência na geração de carvão na China, sozinhas, resultaram em uma economia acumulada de emissões de CO2 de mais de 6 Gt. No contexto, as emissões dos Estados Unidos para 2019 foram de 4,8 Gt. A IEA em seu relatório, que é focado na redução de gases de efeito estufa, também cita a redução que vem sendo realizada, nos poluentes atmosféricos locais.

O progresso nos Estados Unidos na redução das emissões de dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio (NOx) de usinas a carvão foi de cerca de 90% desde 1990. A China também fez enormes progressos para reduzir as emissões de SO2, NOx e material particulado – entre 2014 e 2017, essas emissões caíram 65%, 60% e 72%, respectivamente. A indústria do carvão enfatiza a inovação nas tecnologias no uso do carvão e seu papel no enfrentamento de todas as emissões.

Por outro lado, o principal desafio para os combustíveis fósseis é a redução das emissões de gases de efeito estufa. O Diretor Geral da IEA, no lançamento do relatório ETP-2020 salientou que a implantação de energias renovável variáveis, intermitentes era insuficiente para entregar um futuro de carbono líquido-zero e, portanto, a Captura Utilização e Estocagem do CO2 - CCUS e o hidrogênio seriam críticos para atingir os objetivos do Acordo de Paris. A modelagem do relatório IEA/ETP-2020 pressupõe que a CCUS contribuirá em torno de 20% para os esforços cumulativos de descarbonização do setor elétrico no período até 2070.

A implantação de tecnologia do CCUS também é vital também em indústrias que são altamente intensivas em energia e carbono e dependem do carvão como material essencial na produção, como aço, cimento e potencialmente hidrogênio. Assim como o setor elétrico, a ampla descarbonização industrial depende de demonstração bem-sucedida e implantação generalizada de CCUS.

Além da China que vem agindo fortemente na redução das emissões, citamos como exemplo o governo japonês. Está se movendo para implementar uma política de "baixo carbono" que prioriza a atualização das usinas de carvão existentes para as de última geração, eletrificação de automóveis e aeronaves e tecnologia para captura e reutilizar dióxido de carbono.

Mais estruturada que a abordagem europeia de descarbonização, a política japonesa estabelecerá padrões de desempenho ambiental que proporcionarão conforto às instituições financeiras e investidores para financiar projetos que emitem dióxido de carbono, com isso sendo mais eficaz na mitigação das emissões dos gases de efeito estufa produzidos pela utilização dos combustíveis fósseis.

Enfatizamos que todos os combustíveis e todas as tecnologias são necessários para alcançar a descarbonização profunda, e que estabelecer um ambiente de campo de igualdade, livre do favoritismo energético, é essencial para alcançar nossas metas energéticas e ambientais. O reconhecimento de formadores de opinião no setor energético global fornece ao mundo um lembrete oportuno de que um amplo conjunto de soluções tecnológicas é essencial para resolver os desafios energéticos que enfrentamos.

Fernando Luiz Zancan é presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM)

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