Opinião
A quem interessa a desinformação desonesta?
As usinas térmicas fornecem, além de energia, potência, controle de reativos e inércia ao sistema, algo que fontes variáveis não conseguem fornecer
No setor elétrico são publicadas informações, números e trabalhos de consultoria para todos os gostos e interesses. Seus extratos são encomendados para “vender teses” que nem sempre são intelectualmente honestas. Todos têm números produzidos por premissas que vão rodar modelos, cujos resultados correspondem ao interesse do cliente. Se na guerra a primeira vítima é a verdade, na narrativa da transição energética a desinformação é o primeiro atalho dos desonestos.
Recentemente lemos notícias e números sobre bilhões de reais que o consumidor pagaria por conta de artigos em projetos de lei discutidos no Congresso Nacional. Associações usam a defesa do consumidor e do meio ambiente como álibi para divulgar números e trabalhos feitos por entidades que defendem o próprio interesse. Esses interesses, muitas vezes, nem sempre são os mesmos dos consumidores nas regiões mais carentes ou afetadas do país.
Mais especificamente, vimos estudos “técnicos” de consultorias sobre o valor do impacto da re-contratação das usinas a carvão do sul do Brasil. A premissa do trabalho é de que, ao fim dos contratos, as usinas devem ser desativadas, pois está sobrando energia no Brasil. Ora, se está sobrando energia, porque o Operador Nacional do Sistema, no Nordeste, terra das energias renováveis variáveis, a térmica a carvão de Pecém está despachada? Por que o ONS pede para que todas as térmicas fiquem de prontidão e despacha as de CVU mais barato como as térmicas de Candiota? O que temos aqui? Desinformação, desonestidade ou marque as duas alternativas?
A premissa do trabalho esquece que as usinas térmicas fornecem, além de energia, potência, controle de reativos e inércia ao sistema, algo que fontes variáveis não conseguem fornecer.
Os números citados não levam em consideração que a CDE acaba no momento que os contratos de energia de reserva para essas usinas são assinados. Ignoram também que o valor citado entrega um produto (energia elétrica) confiável, com preços em real e sem variabilidade, pois o combustível não é uma commodity.
Vale lembrar que, nas recentes enchentes do Rio Grande do Sul, a usina de Pampa precisou operar 16 % acima do contratado para segurar um sistema elétrico fragilizado com quedas de linhas de transmissão e desligamento de usinas hidráulicas.
E se o olhar for sob a ótica estrita do consumidor, podemos citar um estudo da Consultoria Thymos Energia mostrando que, entre 2006 e 2021, a operação da Usina Jorge Lacerda poupou R$ 13,2 bilhões ao sistema elétrico. Em outras palavras, o sistema ganhou em segurança energética sem onerar o consumidor.
Também sob o ponto de vista econômico e social, as térmicas apresentam bons resultados. Segundo estudo do Dieese, temos 36,2 mil famílias beneficiadas pela indústria carbonífera. Até 2050, essa atividade vai gerar R$ 40 bilhões de impostos, R$ 27,5 bilhões de massa salarial e R$ 107,2 bilhões de valor adicionado na economia das regiões mineiras.
Só para citar um exemplo, o município de Candiota, na região carbonífera do Rio Grande do Sul, tem o 20o PIB per capita do Brasil e o 3o maior do estado. Por último, não menos importante, sempre é bom lembrar que o carvão representa não mais do que 0,3% das emissões de CO2 no país.
Como os dados acima parecem responder a pergunta do artigo aqui publicado (A quem interessa manter as térmicas a carvão) ficam outras questões: a quem interessa usar números e dados equivocados para justificar uma proposta tão desonesta?
Qual a racionalidade de trocar a segurança energética e o sustento de milhares de famílias por um programa assistencialista e deficitário?
Quem ganharia com a exclusão de uma fonte barata e segura como o carvão?
Como ficariam todos os projetos de pesquisa e desenvolvimento para a transformação do carvão em fertilizantes e outros produtos com emissão negativa?
Quem pagaria essa conta?
Respondidas todas as perguntas, fica a sugestão de encaminhar uma proposta mais honesta: perguntar diretamente para as comunidades das regiões carboníferas se elas querem trocar uma atividade produtiva por um programa assistencialista ou apostar na modernização do setor e na nova indústria de captura de carbono?