O verdadeiro custo da energia

Opinião

O verdadeiro custo da energia

Pela MPV 1304/25 aprovada no Congresso, extingue-se o mecanismo da CDE, ou seja, não haverá mais qualquer “subsídio” ao carvão mineral, se é que um dia esse termo teve seu uso justificado

Por Fernando Zancan

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Quando o assunto é energia, a desinformação e a falta de uma análise mais profunda e técnica acabam levando o público a entendimentos equivocados. E se essas inverdades são repetidas muitas vezes – como já ensinava o ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels – passam a ser percebidas como verdade.

Um exemplo dessa manipulação é o papel das usinas a carvão na conta de luz. Ao contrário de onerar esse custo, como muitas vezes tem sido divulgado, o acionamento dessas térmicas, nas crises hídricas entre 2006 e 2021, proporcionou uma economia de R$ 10 bilhões ao consumidor brasileiro, valor muito acima dos 2% cobrados da conta CDE e do 0,7% adicionado na tarifa.

Se essas distorções já não tinham muita lógica, agora - a partir da contratação das térmicas prevista na MPV 1304/25 - deixarão de fazer qualquer sentido. Pela medida aprovada no Congresso, extingue-se o mecanismo da CDE, ou seja, não haverá mais qualquer “subsídio” ao carvão mineral, se é que um dia esse termo teve seu uso justificado.

Em números, além de toda a segurança e a economia das térmicas em tempos de seca, isso representará 0,37 R$/MWh a menos na conta do consumidor até 2040. Quem é crítico das térmicas e quer reduzir os verdadeiros subsídios, que representam mais 13 % da conta de luz, deve procurar os reais causadores deste aumento de custo.

Ainda sobre o custo da energia, cabe também ressaltar que cada sistema elétrico possui um nível máximo de penetração de fontes de geração não síncronas (eólica, solar), sem comprometer a estabilidade de fornecimento de energia. Esse nível máximo depende de vários fatores, como o nível de flexibilidade operacional dos sistemas, capacidade de escoamento de excedentes e importação de fontes síncronas de outros sistemas elétricos, existência de resposta da demanda, fontes de armazenamento etc.

As usinas hidrelétricas e termelétricas possuem unidades geradoras síncronas. O gerador síncrono recebe esse nome porque a frequência da corrente elétrica gerada está diretamente relacionada (sincronizada) com a frequência de rotação do motor da usina. A principal vantagem de um gerador síncrono é que ele pode produzir energia sem uma rede elétrica externa. A unidade geradora é capaz de fornecer o seu próprio controle de tensão e frequência e, com isso, não depende da rede elétrica.

Desse modo, os geradores síncronos podem permanecer conectados durante e após uma falha na rede elétrica por possuírem uma característica inerente: a inércia, que proporciona estabilidade ao sistema elétrico. Esse é um fator de fundamental importância durante um distúrbio do sistema. Nesse caso, a geração e o consumo ficam desequilibrados, resultando em uma alteração na frequência da rede. A energia cinética armazenada nas unidades geradoras rotativas, como as unidades geradoras presentes nas hidrelétricas e termelétricas, diminui os eventos de variação de frequência além do previsto nos procedimentos técnicos.

Com isso, as unidades geradoras síncronas permitem recomposição do sistema ao dar tempo ao operador do sistema restaurar o equilíbrio do sistema elétrico por meio das demais fontes de geração. Esse processo garante a estabilidade da rede e do fornecimento de eletricidade à sociedade. Como exemplo, temos o apagão de 15 de agosto de 2023, quando o Sul do Brasil, com suas máquinas síncronas (térmicas a carvão e hidráulicas) voltou em quinze minutos, enquanto o Nordeste ficou cinco horas sem luz.

Por outro lado, o combustível água pode faltar. Neste século, já tivemos os fenômenos de 2014 e 2012, por crise hídrica; e nos anos de 2016, 2018 e 2020, por hidrologia adversa. Em todos esses episódios, as termelétricas foram acionadas de forma mais intensa pelo ONS para evitar um racionamento de energia elétrica.

Cabe dizer que com as mudanças climáticas (extremos) poderemos ter, cada vez mais, anomalias no padrão de chuvas. Portanto, a segurança energética é fundamental e as térmicas com despacho firme são parte da solução e têm que ser contratadas, com seu custo devidamente precificado.

Não se resolve a questão do preço da energia com manipulação e desinformação. Por mais que se tente enganar o público, não é possível modificar números, que, assim como os fatos, costumam ser muito teimosos.

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