Opinião

O segundo governo Trump e os mercados de Petróleo e Gás

Trump e seu secretário do Tesouro têm prioridades para o setor que podem se tornar incompatíveis com as promessas de campanha e a estrutura de mercado

Por Osmani Pontes

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Dias após a vitória robusta nas eleições americanas, Donald Trump anunciou Scott Bessent para a chefia do Tesouro Nacional. Ex-gestor de hedge funds e ex-funcionário de George Soros, Bessent tem uma agenda inspirada no ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe que é conhecida como “3-3-3”.

O plano defende redução do déficit orçamentário do governo para 3% do PIB até 2028, obtenção de um crescimento econômico de 3% ao ano e expansão da produção de equivalente de petróleo em 3 milhões de barris ao dia.

Em relação ao último ponto, o aumento é equivalente a 20% da atual produção norte-americana. O principal obstáculo é o baixo incentivo que as empresas têm em aumentar a produção, já que após o boom do xisto, os produtores voltaram seus objetivos para os retornos com a elevação do custo do fracking.

A maioria dos estudos setoriais que consultaram CEO’s das principais empresas aponta que somente com preço do barril de petróleo acima de 65 dólares há disposição para fracking, já que haveria compensação do retorno. Porém somente acima de 90 dólares haveria, de fato, aumento da perfuração. A cotação atual do barril não supera a barreira dos 70 dólares, indicando que a prática difere da teoria ou da vontade política.

Uma das medidas gestadas pelo futuro secretário é a desregulamentação de emissões de metano, que agrada a Trump, além da redução da burocracia para exploração de terras da União. O contraponto é que tal atitude levaria à redução do preço de mercado, gerando perdas de retorno das empresas que já estão no mercado.

Em termos macroeconômicos, o governo espera compensar isto com a redução do preço da gasolina que poderia gerar aumento de arrecadação. O ônus para os mercados emergentes exportadores de petróleo, como o Brasil, poderia ser a deterioração dos termos de troca (queda dos preços dos bens exportados) e elevação da taxa de câmbio e da inflação interna.

Outra possibilidade aventada pelo núcleo do novo governo americano é a compra de petróleo a preços maiores que os de mercado para compor a reserva estratégica nacional. Mas isso se choca com o outro “três” da agenda Bessent, que é a redução do déficit orçamentário.

Assim, algumas fontes dão conta de que Trump pensa em um imposto sobre produtores que não reinvestirem uma determinada parcela dos lucros no próprio negócio, porém essa proposta contraria uma promessa de campanha de Trump que é a redução de impostos, promessa muito cara aos petroleiros que fizeram polpudas doações de campanha para o republicano.

Em todo esse contexto, porém, há um atenuante para os mercados emergentes exportadores. Mesmo que leve a cabo sua ideia, Trump não conseguiria aumentar as exportações a ponto de inundar o mercado global de petróleo, ou equivalente, mais barato afetando os demais países. Isso porque as empresas americanas possuem infraestrutura apenas para gás liquefeito e não para petróleo e gás natural. Eventual construção dessa estrutura esbarra na falta de oferta de crédito bancário, uma vez que tal projeto viola as métricas de ESG dos principais bancos.

Além do mais, são possíveis as retaliações de parceiros comerciais às medidas protecionistas que serão adotadas pelo novo governo, de modo que produtos americanos não entrariam com facilidade em outros mercados e se entrarem o fariam a preços pouco competitivos.

Até aqui há muita discussão e pouca ação concreta, sobretudo porque as refinarias americanas já estão insatisfeitas porque importam petróleo bruto para melhorar a qualidade do refino e, com as medidas protecionistas, se depararão com forte elevação dos custos de produção.

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