Incertezas e dilema de investimento no mercado de OG

Opinião

Incertezas e dilema de investimento no mercado de energia

O que se desenha como um problema nos próximos anos para as companhias de energia renovável pode encontrar uma solução não só no mercado de capitais internacional como também no brasileiro

Por Osmani Pontes

Compartilhe Facebook Instagram Twitter Linkedin Whatsapp

A literatura keynesiana não apenas se debruçou a estudar as escolhas dos agentes econômicos sob incerteza como se constituiu em grande parte no entorno da natureza desse tipo de decisão. Keynes distingue, em um arcabouço formal estatístico, o risco da incerteza, pelo qual risco é um evento de probabilidade conhecida, portanto mensurável, e incerteza, é a situação futura de probabilidade completamente desconhecida no presente.

Ao formar as expectativas, não endógenas aos modelos racionais, os agentes se antecipam ao que na verdade não conhecem, buscando mecanismos de defesa. A frase do George Shackle, economista que se dedicou a estudar escolhas sob incerteza resume o capítulo 12 da Teoria Geral de Keynes, "a incerteza é a causa não causada".

Essa percepção teórica encontra terreno fértil para aplicação na comparação da dinâmica do financiamento do mercado de energia renovável no Brasil com o quadro macro global do setor de petróleo.

Internamente, nota-se que o mercado de capitais está mais seletivo para o financiamento de projetos renováveis, sobretudo para projetos de pequenas e médias empresas. Isso se deve à baixa previsibilidade dos fluxos de caixa em função dos curtailments (os cortes na geração de energia promovidos pelo Operador Nacional do Sistema) e ao relativamente elevado número de projetos em andamento na carteira do BNDES como o parque fotovoltaico de Arinos (MG), com capacidade instalada de 505 MW.

Como resultado, há excesso de energia gerada no Nordeste que pode ser distribuída para o restante do país, abrindo possibilidade de financiamento de linhas de transmissão, que são, no entanto, de longo prazo.

Quando olhamos para o curto prazo, o tom é de cautela, se sobressaindo apenas projetos de grandes empresas cujas receitas não dependem somente do projeto em questão. É por isso que quando observamos a soma das debêntures incentivadas com as de infraestrutura vemos aumento do primeiro semestre de 2024 para o primeiro semestre de 2025: 4,83 bilhões de reais para 6,6 bilhões de reais. Há um aumento de emissões de forma concentrada em grandes grupos e em projetos eólicos e solares.

O que se desenha como um problema nos próximos anos para as companhias de energia renovável pode encontrar uma solução não só no mercado de capitais internacional como também no brasileiro. Por uma questão de falta de opção atrativa, o mercado bancário pode suprir em parte a relutância do mercado de capitais para o segmento de renováveis.

Os bancos globais carregam em seus balanços robustas parcelas de ações de grandes empresas de petróleo e direcionam parte de suas ofertas de crédito para o setor. Em um mercado de alta correlação entre preços da commodity e preços das ações, olhar o ciclo importa.

Nesse momento, as escolhas estão sob forte incerteza de maneira que os hedges (estratégias precaucionais) estão sob escrutínio e a preços elevados. Os agentes keynesianos estão se precavendo de um futuro ainda desconhecido e a atratividade dos selos verdes oferecidos pelos projetos renováveis ganha destaque.

Com capital ocioso, sobretudo no Brasil, com juros altos, as oportunidades podem surgir. O mercado de crédito enxerga a energia renovável como substituta não perfeita da energia de matriz fóssil.

Como no atual estágio, o ciclo de preços de petróleo mostra queda de 20% de 2023 para cá, as projeções pessimistas impactam a decisão de investir das empresas que demandam menos crédito bancário de instituições que por sua vez ficam cada vez mais claudicantes em assumir posições longas em petróleo futuro (lastro no balanço dos bancos para empréstimos ao setor).

Falando um pouco mais sobre o ciclo, há fundamentos de alta de preços, a saber: 1) demanda global firme embora com viés de queda, mas próxima à média dos últimos 20 anos; 2) tendência de redução da produção global por conta da baixa dos preços; 3) estoques globais baixos de óleo bruto antes do excesso de produção atingir os mercados, sugerindo menos armazenamento no futuro.

Assim, é possível convergência para o preço de 80 dólares o barril de forma sustentável em 2026/27, mas para os bancos que assumiram posições a 100 dólares esse patamar só deve ser retomado em 2028/29. Ou seja, o cenário otimista levará tempo, em linha com o último ciclo de preços que demorou de setembro de 2014 a fevereiro de 2022 para recuperar o pico.

Nessa equação, para bancos locais e estrangeiros, a liberação de créditos para projetos renováveis de curto prazo preenche a lacuna de ausência de tomada de posições no setor de petróleo, que sob compasso de espera acaba favorecendo o circuito finance (curto prazo) x funding (longo prazo) das empresas de energia renovável e no limite a escolha do setor financeiro é fuga da incerteza ainda que apostando num nicho de receitas menos robustas no horizonte relevante.

Outros Artigos