Opinião

Choque tarifário e financiamento bancário ao setor de Óleo e Gás

Análise mais cuidadosa permite identificar um choque proveniente da mudança na dinâmica comercial sobre os fluxos de financiamentos globais, ainda mais sensíveis em setores mais voláteis e dinâmicos com os mercados de Energia

Por Osmani Pontes

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Ainda é prematuro estimar com precisão os efeitos que a nova política tarifária do governo dos Estados Unidos causará na economia global e essa dificuldade de acurácia deriva não somente do aspecto temporal envolvido, mas da própria natureza do conjunto de medidas, uma vez que se abre precedente para negociações bilaterais imprevisíveis e peculiares. Há que se verificar também a volatilidade das medidas que viram uma sequência de alterações ao sabor do humor do presidente Trump.

Ainda assim, há algumas inferências conceituais que podem ser feitas e não têm sido verificadas no debate a nível macro global, sendo a principal delas o efeito da política comercial americana sobre o financiamento internacional, com nosso interesse em especial no setor de energia.

Em geral, os comentários têm sido voltados para os efeitos que afetam o comércio de bens e serviços, mas é útil descortinar o véu monetário e avaliar a identidade expressada nos balanços de pagamentos das diversas economias nos quais todo fluxo comercial reflete ou é reflexo de um fluxo de ordem financeira.

Uma análise mais cuidadosa permite identificar um choque proveniente da mudança de dinâmica comercial sobre os fluxos de financiamento globais, que são ainda mais sensíveis em setores mais voláteis e dinâmicos como os mercados de energia.

Um primeiro comentário que deve ser feito joga luz sobre o volume de comércio global que se reduzirá e impactará as taxas de crescimento das principais economias globais.

Isso amortece o efeito pró-crescimento decorrente da redução de juros por parte dos principais bancos centrais e apesar do crédito a rigor ficar mais barato, a baixa expectativa de crescimento contrai o crédito bancário. Isso porque os bancos atribuem maior valor à liquidez e optam por direcionar seus ativos para títulos públicos ou diversificação de carteira.

Outro ponto relevante é que, apesar da depreciação do dólar em escala global, houve também redução dos preços de commodities, sobretudo petróleo. O movimento é fruto do pessimismo esperado para a demanda em virtude do menor crescimento projetado. De tal maneira que as receitas das companhias de petróleo tendem a diminuir tanto pelo preço quanto pela quantidade, neutralizando o efeito positivo da depreciação do dólar.

Assim, como em alguns contratos as receitas das companhias servem de garantia e lastro para vultuosos empréstimos, a tendência é uma maior resistência dos bancos ao crédito bancário.

Por fim, a dinâmica instável verificada nos mercados futuros de petróleo também importa. Como a liquidez tem apresentado alta volatilidade com bruscas variações nos contratos futuros expressas pelo temor de traders em receberem barris físicos com preço na baixa, somado ao problema de estocagem do produto, surgem dificuldades de cobertura nesses mercados, operação fundamental para liberar o risco no balanço dos bancos a fim de viabilizar novos empréstimos.

A tendência, portanto, é de nova contração do nível de oferta de empréstimos.

Diante disso, é provável que os projetos menos viáveis ou de custos variáveis maiores sejam interrompidos por parte das empresas e que os de longo prazo drenem recursos retidos pelas próprias companhias ao longo dos últimos anos.

Para quem investe em ações do setor, é importante se atentar a movimentos que devem ser mais comuns nos próximos dois anos, como a redução da distribuição de lucros e dividendos em favor de maiores taxas de reinvestimentos e recompra de ações.

A estratégia seria uma forma de compensar a escassez do crédito bancário e os obstáculos de viabilizar projetos no mercado de capitais.

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