
Opinião
O Gás release nos bastidores do mercado: quem pode sair ganhando?
A princípio, o sistema bancário observa com atenção o desenrolar dos fatos. Os bancos estrangeiros ainda são os que oferecem mais produtos financeiros a empresas do setor

O governo Lula, por meio do ministro Alexandre Silveira, tem adaptado alguns pontos do programa gás release para implementação, com efeitos para diversos atores importantes no mercado de gás brasileiro.
Antes de explanar o caso em questão, há que se destacar que durante muitos anos o regulador ou o político defensor de interesses nacionais viu com maus olhos a presença de empresas multinacionais atuando no Brasil.
Em uma afirmação sujeita ao escrutínio de um amplo e polêmico debate, a discussão ou o temor soa estéril. Na prática, o que é enviado ao exterior sob a forma de remessas e lucros atuando para a depreciação cambial, entra na conta capital como investimento direto no país ajudando o câmbio no sinal da apreciação. Um jogo de soma zero no balanço de pagamentos.
Isso é importante de ser notado porque no setor de O&G muitas vezes se olha mais o exterior e menos como o mercado local se comporta com seus próprios atores. Bem, no gás release, a Petrobras seria impedida de deter mais da metade da produção de gás do país.
A despeito da contrariedade da FUP, a federação dos sindicatos, a medida beneficiaria empresas que buscam escala para diluir custos como o caso da Compass.
Pode também ser uma forma de baratear o combustível já que as distribuidoras deixariam de comprar da francesa Total, hoje a principal fornecedora, que pode cotar preços em dólar e com certa margem de manobra. Não significa, no entanto, que essa redução de custos se tornará redução de preços ao consumidor final, uma vez que o mercado de distribuição seguirá com poucos atores.
Isso pode ser desprezado na análise em virtude da baixa proporção do segmento na formação de margens de lucro para o setor. Mas passa a importar quando tomamos a disposição dos bancos com o setor como um todo.
A princípio, o sistema bancário observa com atenção o desenrolar dos fatos. Os bancos estrangeiros ainda são os que oferecem mais produtos financeiros a empresas do setor e tem na petroleira francesa a principal cliente. Uma eventual saída da Total nesse fornecimento pode gerar perdas aos bancos que não seriam facilmente remediadas com busca de novos clientes. Pelo contrário, pode gerar uma indisposição do sistema financeiro com as empresas do setor que teriam aumento de custos ou piora de condições de financiamento.
Isso porque caso a Total perca mercado para leilões mais baratos da Petrobras, os bancos que administram seus ativos teriam que remanejar posições de proteção em mercado futuro na mesma monta da perda de receita, financiando essas compras com vendas de ativos mais seguros nas carreiras dos bancos. Com essa dinâmica, aumenta o risco e reduz o apetite dos bancos para assumir mais posições de risco em aporte a empresas do setor.
O melhor no momento é evitar a retórica da vilania tanto dos bancos estrangeiros, quanto das companhias de fora e sobretudo das companhias nacionais. É possível haver um jogo de ganha-ganha, mas o regulador precisa garantir concorrência interna, caso contrário não haverá vencedores e somente a Petrobras perderá.