Opinião

Transição Energética, uma questão macroeconômica

Mudança de componentes na Matriz Energética brasileira é, em princípio, um desafio para as empresas do setor, mas se impõe também como uma necessidade para os negócios do país

Por Osmani Pontes

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Usualmente encontramos nos debates sobre a transição energética o desafio que as empresas do setor de energia se deparam para a mudança no mercado de insumos e no mercado consumidor. Nesse ambiente microeconômico, há a dificuldade contratual e as barreiras à entrada, bem como o uso de novas tecnologias que podem ensejar algum custo fixo maior no começo até que os retornos deem conta da sua diluição.

No entanto, é menos comum o tratamento dos desafios e vantagens macroeconômicas da mudança de matriz energética. Sob esse ponto de vista, um recorte histórico traz bom panorama. A partir dos anos 2000 os efeitos dos choques de oferta ou demanda de petróleo parecem ter sido menores quando comparados com aqueles vistos entre os anos 1970 e 1990.

Uma possibilidade é que os efeitos são indiretos e algum canal de transmissão pode estar obstruído. O aumento de preço do petróleo pressiona a taxa de inflação interna e os bancos centrais reagem elevando a taxa de juros que aí sim afeta negativamente o produto.

Outra linha promissora diz respeito à gradual mudança de uso de fontes de energia com um protagonismo cada vez maior das energias limpas e renováveis. Nesse contexto, os debates devem ter no foco cada vez mais avaliar os choques de energia incluindo essas fontes para melhor medir o impacto macroeconômico.

Recente trabalho publicado na página do Banco Central do Brasil “Renewable energy shocks and business cycle dynamics with application to Brazil” de Alexandre Kornelius e José Angelo Divino investiga pontos importantes nessa seara.

O objetivo é avaliar como os choques de energia sobre o produto podem ser reduzidos na presença de energias renováveis no Brasil e a conclusão é promissora, uma vez que a transição energética reduz a sensibilidade da economia aos choques. No modelo, os autores incluem a produção e o consumo de energia limpa. Um choque de oferta de energia é responsável pela variação de preços de energia que geram custo social e econômico. Mas são menos preponderantes para explicar variações do produto já que a maior parcela dessa variação é devida a choques não energéticos.

Mas os choques energéticos são responsáveis ainda por 4,6% da variação do produto da economia brasileira, sendo 2% via choque de oferta e 1,3% para cada um dos choques de demanda, industrial e residencial. Ainda segundo o texto, a sensibilidade da demanda residencial aos preços aumenta no tempo, mas é relativamente restrita de modo a não causar um choque tão abrupto na produção agregada.

De algum modo, com a inclusão de fontes renováveis como energia elétrica, eólica, solar e afins, as mudanças climáticas tendem a gerar danos restritos na economia na medida em que há pulverização das diferentes fontes de produção. A conclusão é interessante ainda no que diz respeito à energia elétrica que por ser um mercado de preço regulado tende a reagir menos aos movimentos mais voláteis do mercado.

Na medida em que houver um consenso sobre a importância de uma transição energética rápida e segura, o tema será cada vez mais incorporado à discussão acadêmica e política da macroeconomia, como suas vantagens e impactos agregados para além da esfera microeconômica.

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