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Biotérmicas, supridoras de última instância na economia circular

Além do papel garantidor de entrega instantânea que todas as termelétricas oferecem ao SIN, as UTEs que geram a partir da biomassa aproveitam passivos ambientais como fonte energética em modelo de circularidade

Por Liana Verdini

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UTE da Suzano em Ribas do Rio Pardo (MS), de 384 MW, entrou em operação em fevereiro de 2025, utilizando licor negro como fonte de energia (Foto: Divulgação/Suzano)

As “biotérmicas” geram com resíduos orgânicos de origens diversas que, se não aproveitados, tornam-se passivos ambientais cada vez mais difíceis de administrar por empresas, por prefeituras e, em última análise, pela sociedade em geral. Com sua capacidade de se nutrir com resíduos vegetais, animais ou industriais, de saneamento ou do lixo urbano, conseguem transformar problemas de soluções custosas em receitas com a geração de energia.

Além disso, pela capacidade de operar em qualquer época do ano, algumas dessas biotérmicas são uma ferramenta eficaz para o ONS fazer a melhor gestão dos reservatórios das hidrelétricas, preservando-os para os períodos mais críticos de falta de chuvas, ao mesmo tempo em que sustentam o fornecimento quando as intermitentes deixam de produzir diariamente.

Esse conjunto de atributos pode explicar o crescimento dessa fonte de eletricidade nos últimos anos. Hoje, de acordo com levantamento da Unica – associação dos produtores de cana - com base em dados da CCEE, as usinas térmicas a biomassa já ocupam a quarta posição entre as geradoras de energia elétrica no Brasil, considerando apenas o que é produzido para a rede e excluindo o que é destinado ao autoconsumo.

Em 2024, a produção de bioeletricidade para a rede atingiu 28.260 GWh, ficando ligeiramente abaixo da gerada pelo gás natural, que totalizou 28.780 GWh.

No Brasil, as usinas a biomassa são movidas por insumos como lenha, lixívia ou licor negro, bagaço e palha de cana, resíduos de madeira, capim elefante, casca de arroz e biogás, entre outros. Bagaço e palha da cana-de-açúcar foram responsáveis por 75% de toda a geração de bioeletricidade destinada à rede no Brasil, ofertando 21.218 GWh. De acordo com Zilmar de Souza (foto), gerente de Bioeletricidade da Unica, essa geração foi suficiente para poupar 15% da energia armazenada nos reservatórios.

A colheita da cana se estende de abril a novembro, abarcando o período de redução das chuvas no país, que vai de maio a novembro. Além disso, 90% da cana processada está na região Centro-Sul, que concentra o maior consumo de energia. Como a geração a biomassa é mais volumosa nessa região, há consequentemente menores perdas técnicas na transmissão de curta distância para os centros de carga.

UTE Onça Pintada, da Eldorado Celulose instalada em Três Lagoas (MS), tem 70 MW de capacidade e utiliza biomassa de resíduos florestais de eucalipto (Foto: Divulgação/Eldorado)

O potencial de geração de energia a resíduos da cana é muito maior do que o utilizado. A Unica estima que apenas 15% desse potencial são utilizados no Brasil e se o aproveitamento da biomassa nos canaviais fosse total, a bioeletricidade teria potencial técnico para chegar a 151 mil GWh, atendendo mais de 30% do consumo de energia no sistema integrado.

No Plano Decenal de Expansão de Energia 2034, a EPE projeta que será necessário um acréscimo na geração de aproximadamente 55 mil MW, dos quais 45% serão supridos por PCHs, biomassa (incluindo a possibilidade de biocombustíveis líquidos), eólica e solar, esta considerando apenas a geração centralizada.

A EPE, a partir de dados da Aneel, mostra que a capacidade instalada de geração a biomassa de cana atingiu 12,7 GW em novembro de 2024. E que, das 360 usinas sucroenergéticas em operação em 2023, cerca de 249 (69%) comercializaram energia. Nos últimos anos, a comercialização da bioeletricidade no ambiente regulado (ACR) tem diminuído, embora sua participação na matriz elétrica nacional se mantenha.

A colheita da cana se estende de abril a novembro, abarcando o período de redução das chuvas no país, e está concentrada no Centro-Sul, região de maior consumo de energia

Segundo a EPE, a tendência é que o ambiente de contratação livre e a liquidação de energia no mercado spot se tornem majoritários para a venda de energia deste segmento. A projeção é que a energia total contratada destas unidades no mercado regulado (ACR) atinja aproximadamente 1 GWmed ao fim de 2026, além do montante extra certame de 501 MWmed, que pode ser comercializado pelas usinas de biomassa de cana no ACL ou no PLD neste mesmo ano.

Como potencial técnico, de acordo com a EPE, a bioeletricidade de cana deve atingir 5,8 GWmed em 2034, montante 1,9 GWmed maior que o projetado para a curva no período.

No caso do biogás, outra fonte biotérmica, o maior contribuinte é o setor agropecuário, com resíduos agrícolas e pecuária confinada, além de resíduos sólidos urbanos e esgoto. Embora o potencial seja considerável, sua presença na oferta interna de energia ainda é modesta (0,12%), mesmo com crescimento acelerado, de 22,4% a.a. no último quinquênio, pelos dados da Aneel.

Piracanjuba vai implantar Estações de Tratamento de Efluentes Industriais (ETEs) em quatro unidades da empresa para produção de biogás (Foto: Divulgação/Piracanjuba)

Um exemplo de aproveitamento de resíduo para produção de biogás é a Piracanjuba, que conseguiu financiamento de R$ 150 milhões do BNDES, recursos do Fundo Clima, para implantação de quatro Estações de Tratamento de Efluentes Industriais (ETEs) com produção de biogás nas unidades de Araraquara (SP), Três Rios (RJ), Carazinho (RS) e São Jorge D'Oeste (PR). O presidente da Piracanjuba, Luiz Claudio Lorenzo, conta que o biogás gerado nesses projetos será utilizado nas caldeiras, reduzindo assim as emissões de gases de efeito estufa e os custos com combustíveis.

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