Opinião
Dividendos extraordinários e o longo prazo para a Petrobras
Um olhar sobre os resultados da Petrobras de 2023 nos leva a importantes avaliações sobre a nova estratégia da empresa no mercado de óleo e gás
Em março a Petrobras divulgou seu balanço trimestral consolidando os dados de 2023, permitindo inferências importantes em relação ao primeiro ano da gestão Prates na estatal.
Os lucros caíram 28% no 4° trimestre em relação ao tri anterior e 34% em 2023 em relação a 2022. Os lucros líquidos ficaram em 31 bilhões de reais no 4° tri, 8% acima do esperado e foram ajudados pelo câmbio apreciado. No ano, 125 bilhões de reais. O Ebtida ficou em 67 bilhões de reais no trimestre, somente 6% abaixo do tri anterior, apesar da queda dos preços do Brent no trimestre.
Esse movimento de queda dos preços está na raiz da redução dos lucros e do Ebtida e se reflete na queda das receitas de vendas em 15,3% somando 134,2 bilhões de reais no trimestre. As recompras de ações, política que vem ganhando força, somaram 2,7 bilhões de reais no último trimestre e as reservas de capital fecharam em 43,9 bilhões de reais, sendo 39 bi livres para alocação. Esse montante será destinado para pagamentos de dividendos no futuro, juros sobre capital próprio, novas rodadas de recompras, absorção de prejuízos e incorporação de capital social.
Os destaques, no entanto, foram o aumento dos investimentos em 23,7% no ano em relação a 2022 somando 3,55 bi de dólares e o não pagamento de dividendos extraordinários. A estatal pagou apenas o determinado em estatuto, o chamado mínimo, que representa 45% do fluxo de caixa, frustrando as expectativas de pagamento extra de 43,9 bi de reais. No trimestre o pagamento ficou em 14,2 bi e no ano em 72,4 bi.
O impacto negativo afetou os planos do Ministério da Fazenda já que Haddad contava com os dividendos para ajudar na meta fiscal, afinal o governo como maior acionista receberia parte robusta do valor, mas também o mercado financeiro que derrubou no dia as ADRs no pré market em 10% em NY levando a EWZ que replica ações brasileiras a queda de 2%. Na bolsa brasileira houve tombo de 11% no dia da PETR3. O valor de mercado já havia caído em 30 bi de reais quando Prates anunciou cautela na distribuição de dividendos.
Só que alguns pontos precisam ser pontuados. Primeiro que é falaciosa a ideia de que há captura da Petrobras pelo governo uma vez que o pagamento robusto de dividendos favorece as metas primárias da União. Segundo que não se pode analisar somente o resultado dos preços de ativos e sim o outro lado do espelho que são o aumento dos investimentos, do fluxo de caixa e da reserva de capital. Mais ainda, a estratégia de retenção de recursos para recompra de ações implica uma valorização intrínseca do papel da empresa, bem como os investimentos mais volumosos geram retornos maiores no longo prazo.
Finalmente, dois pontos são relevantes. Enquanto empresa em que o Estado é o acionista majoritário cabe a ele induzir investimentos em setores que não são atrativos para o setor privado que olharia somente o retorno aos acionistas. Mas há a necessidade de investimento em ESG como energias alternativas que possuem retornos bem mais baixos que o setor de óleo e gás e não geram incentivos ao setor privado apesar das exigências ESG. Esse tipo de investimento é fundamental ao compensar o maior investimento em refino contemplado no plano estratégico.
Outro ponto é que há intenção da Petrobras de aumentar sua participação em outros mercados como a indústria bioquímica (caso da Braskem), a mineração (via Vale) e a distribuição do próprio setor como a ideia de comprar de 20 a 40% da Vibra, ex-BR, que foi privatizada em mercado, com golden share da marca BR, e pela venda direta de combustível às frotas. E essa pulverização via fusões e aquisições tem potencial de gerar retornos maiores para os próprios acionistas no longo prazo.
De modo que a reação inicial do mercado nada mais foi que correção de excessos das posições em Petrobras e um alerta de que não se podem avaliar estratégias de investimento olhando reação de alta frequência, bem como valor de mercado não é um bom indicativo para orientar investimentos no setor de óleo e gás, pois há muita volatilidade. Um exemplo foi a variação intensa de valor de mercado de topo no começo do ano para a queda resultante da queda dos preços de ações. Há que se avaliar os retornos de longo prazo e os determinantes macroeconômicos.