Opinião
Os efeitos da crise bancária internacional sobre o setor de petróleo e gás: primeiras impressões
Aumento de preços do brent e demanda chinesa tornam investimento mais atrativo no setor de petróleo, porém crise bancária tende a restringir o financiamento para novos projetos
Ao longo de março dois eventos abalaram os mercados globais, um com impacto direto sobre o setor de petróleo e gás e outro com efeitos indiretos. Como efeito direto, a alta do preço do brent em decorrência da melhoria de indicadores da economia chinesa, forte demandante de petróleo, e em um segundo momento por conta da recente decisão da OPEP, já em abril, de reduzir a produção de petróleo.
Esse último evento tem um caráter geopolítico e outro econômico. O geopolítico é que por mais que os EUA tenham expandido a capacidade de shale gas, ainda não conseguem concorrer no mercado internacional com o petróleo da OPEP por conta do elevado custo de produção. O econômico é que 50 anos após o primeiro choque do petróleo, a economia global ainda é fortemente dependente de petróleo, o que só evidencia o atraso, sobretudo da Europa, na transição energética para uma energia limpa.
Mas como a produção de petróleo tem longa duration (retorno dos investimentos), os investidores não olham somente o preço à vista e sim a curva futura de preços. A alta do brent, no entanto, promoveu o deslocamento para cima de toda a curva de preços para todos os vencimentos no mercado futuro de petróleo, ou seja, sendo o preço futuro o preço à vista esperado em determinado vencimento e considerando o custo de estocagem, o petróleo mais caro gera mais atração de investimento no setor, há mais demanda por investimento.
Mas há oferta de investimento disponível? E aqui entra o segundo evento. Para o setor de petróleo e gás a demanda por investimentos pode ser entendida tanto no sentido de demanda de caixa para empresas que operam no mercado futuro em busca de cobertura para oscilações no preço e precisam constantemente ajustar margens, quanto no sentido da própria demanda para entrantes ou para novos projetos em linha com o finance-funding.
O finance é o empréstimo de curto prazo que a empresa obtém junto aos bancos. Usa os recursos para investir e com o retorno paga ao banco, tomando empréstimos de prazo mais longo, funding, compatíveis com a maturação dos projetos. É como se rolasse a dívida alterando taxas e vencimentos, que ficam menores e maiores respectivamente.
No entanto, houve a crise bancária na Europa por conta de mau gerenciamento de riscos do Credit Suisse, que foi incorporado pelo também suíço UBS, e nos EUA com a falência de bancos de pequeno e médio porte como o SVB e o Signature. Estes por conta de mudanças bruscas na taxa de juros do banco central americano que danificou seus balanços.
Ora, em tese problemas nesses bancos não deveriam impactar o financiamento para o setor de energia. Porém, há efeitos contágio e vimos fuga de posições de investidores em ações de bancos. Mais ainda, para que o Credit Suisse fosse vendido, os reguladores desprezaram os títulos AT1 (títulos adicionais de nível 1) que foram criados no pós-crise de 2008 para facilitar o aumento de capital dos bancos para atenderem aos novos mínimos exigidos. O banco emitia esses títulos, mas caso o montante de capital caísse para baixo de determinado mínimo, esses títulos seriam convertidos em ações. O comprador só incorria no risco de conversão, mas tinha prioridade ante amortizações, era o atrativo dos títulos. Com a permissão do regulador suíço de não conversão desses papéis, houve insegurança nesses títulos e diversos bancos do mundo sofreram resgates desse tipo de ativo.
Ou seja, ficaram com passivos menores em valor e serão obrigados a reduzir ativos que são os empréstimos em geral. Como há o agravante de ficarem muito próximos dos mínimos de capital exigido, há a tendência de buscarem ativos de curto prazo e seguros e o setor de petróleo e gás (alto risco), juntamente ao imobiliário, é o que menos atende a esse perfil.
A tendência é que haja maior concentração das empresas já atuantes no setor e menor volume de projetos ao longo deste ano, de modo que as empresas de oil and gas não devem se beneficiar como o esperado da tendência altista da curva futura de petróleo.
Osmani Pontes Economista, com MBA em mercados de derivativos, opções e futuros pelo INSPER e em gestão de portfólios cambiais pela EPGE/FGV. Escreve mensalmente na Brasil Energia