Opinião

A Exploração e Produção em 2023

Embora a produção dos independentes seja pequena para o país, foram as atuações dessas empresas que motivaram a perfuração de mais da metade dos poços perfurados no país no ano passado

Por Magda Chambriard

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O ano de 2023 se encerra com o Brasil produzindo 4,323 milhões de barris de óleo equivalente (óleo mais gás) por dia, com 83% desse volume proveniente do Pré-Sal. Menos de 3% da produção do país é proveniente de ativos onshore. Cerca de 15% da produção é oriunda de ativos marítimos produtores no pós-sal. Quase 90% dessa produção é operada pela Petrobras.

A grandeza do Pré-Sal tem motivado o desinvestimento da Petrobras e sua concentração em ativos das Bacias de Campos e Santos. Com o mesmo objetivo atuam as grandes petrolíferas multinacionais. A atuação em terra foi praticamente toda delegada às independentes, assim como o foram alguns ativos maduros, de águas rasas e profundas da Bacia de Campos, litoral dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Não é de hoje a intenção do Conselho Nacional de política Energética (CNPE) de fomentar a atuação das pequenas e médias empresas, em campos e blocos maduros ou marginais, em prol da geração de empregos e rendas regionais. Alguns números de 2023 mostram a relevância desse esforço.

Embora a produção dos independentes seja pequena para o país, sua contribuição regional tem sido digna de atenção e de incentivo. Foram as atuações dessas empresas que motivaram a perfuração de mais da metade dos poços perfurados no país, em 2023.

Ano passado foram perfurados 147 poços no Brasil, sendo 17 exploratórios e 130 poços de desenvolvimento da produção. Dentre os exploratórios, apenas 9 foram pioneiros, 8 deles foram perfurados por independentes. Nenhum perfurado pela Petrobras.

Dentre os poços de desenvolvimento, 82 foram perfurados por independentes, nas bacias do Amazonas, Parnaíba, Potiguar, Recôncavo, Campos e Santos. Quarenta e três (43) foram perfurados pela Petrobras em Campos e Santos.

Considerando o total perfurado, para além da atuação da Petrobras e das independentes, destaca-se a perfuração de um poço pioneiro pela Total Energies e cinco da Equinor, dentre eles um poço de desenvolvimento no campo de Bacalhau, nas águas profundas da Bacia de Santos, no Pré-Sal.

Figura 1 – Poços concluídos em 2023, segundo ANP.

 

Do apresentado, conclui-se pelo acerto do desinvestimento em terra e nos campos maduros. Até porque, apesar de recentemente a Petrobras ter cancelado o desinvestimento nos polos Urucu e Bahia, a estatal não realizou nenhuma perfuração nesses ativos em 2023, assim como também não perfurou nenhum poço em Albacora, Marlim Sul etc., campos geradores de importantes receitas para o Norte Fluminense.

Também se conclui pela ineficácia do polígono do Pré-Sal na Bacia de Campos. Até o momento, foram pouquíssimas as descobertas no pré-sal em Campos, todas elas de pequeno porte e em campos produtores. Até o momento não surgiu nenhum campo com objetivo principal Pré-Sal na Bacia de Campos. Em 2023, o único pioneiro perfurado na bacia, pela TotalEnergies, foi abandonado permanentemente, o que leva a crer que o polígono do Pré-Sal, na Bacia de Campos, nesse momento além de não garantir mais receitas para a União, acaba atrapalhando a atuação das empresas, via Oferta Permanente e, consequentemente, prejudicando a geração de emprego e renda no Norte Fluminense e sul do Espírito Santo.

Espera-se, portanto, que o Estado brasileiro persista na direção de apoiar as empresas independentes e reflita sobre a oportunidade de manter o polígono do Pré-Sal na Bacia de Campos (melhor seria se estivesse localizado apenas na Bacia de Santos e, eventualmente, em alguma área estratégica a ser definida), em prol da extensão da vida produtiva dos ativos nordestinos, e dos localizados na plataforma continental do Norte Fluminense e Sul Capixaba. Em que pese o coração dos brasileiros ser da Petrobras, não se pode fechar os olhos para a realidade de que a empresa dá mostras reiteradas de que não deseja investir nesses ativos.

 

Magda Chambriard, engenheira, mestre em Engenharia Química e Civil, é diretora da Assessoria Fiscal da Assembléia Legislativa do RJ (Alerj) e sócia da Chambriard Engenharia e Energia. Escreve na Brasil Energia a cada três meses.

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